Título: Escolas buscam equilíbrio na hora de encaminhar
Autor: Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Vida&, p. A26

Profissionais devem trabalhar com família quando notam exagero

Quando os problemas das crianças e adolescentes aparecem com mais evidência dentro da escola, até que ponto se deve atribuir responsabilidade ao aluno, a falhas do ensino ou ao reflexo de questões familiares? O questionamento é do diretor de ensino do Colégio Pueri Domus, Luis Antonio Laurelli. Segundo ele, a pergunta é feita com cada vez mais freqüência entre seus professores.

Para lidar com esse desafio, o colégio está repensando sua maneira de ensinar. Uma das ações implementadas foi o programa de tutores. A partir da 4ª série do ensino fundamental, os alunos têm quatro horas semanais para discutir métodos de leitura, dificuldades e formas de aprendizado.

Mesmo assim, de acordo com Laurelli, quando o comportamento do aluno permanece problemático, a solução é encaminhar para especialistas. "Temos de ser responsáveis nessa análise, para não superdimensionar nem uma coisa nem outra. Não podemos ir para um lado e achar que a escola pode fazer diagnóstico de aluno. Mas também não podemos ignorar o fato de que há os que precisam de tratamento."

A busca do equilíbrio também é a proposta do Colégio I.L.Peretz, que tem uma equipe própria formada por psicopedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos. "Você vai observando, vê com a equipe, chama a família, conversa com a professora. Somente quando percebe que todas essas ações não resolvem, recomenda para uma psicopedagoga, que é a profissional capaz de olhar todos os aspectos da aprendizagem do aluno", explica a educadora Anete Hecth, diretora de ensino do colégio.

QUEM PRECISA DE AJUDA?

Quando se recorre à psicopedagoga, o primeiro passo é fazer o diagnóstico, para saber se é mesmo a criança quem precisa de tratamento. "O psicopedagogo só trata questões de aprendizagem. Pais e escolas precisam tirar a dúvida e nos procuram. E existe os que precisam de acompanhamento e os que não precisam", afirma Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.

Ela conta que, quando chega uma criança ou adolescente que não tem nenhum problema, o primeiro passo é chamar os pais. "Às vezes, por trás da criança, percebemos aquela neurose obsessiva dos pais de quererem que o filho seja o melhor. Há casos em que a criança traz os problemas da família. Há casais que precisam que o filho seja problemático para manter a relação, para ter uma desculpa que justifique continuarem juntos."

Nesses casos, o melhor, segundo Irene, é trazer os pais para o consultório, e assim tirar o foco da criança. Aos poucos, diz ela, alguns casais compreendem a verdadeira natureza da questão. Outros simplesmente desaparecem e levam o problema para outra pessoa.