Título: Empresários, discretos ou não, dão apoio a Prodi
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Internacional, p. A20,21

O grande empresariado italiano da Confindustria se manteve oficialmente neutro durante a campanha eleitoral, apesar da ruptura com o primeiro-ministro Silvio Berlusconi ter se consumado nesse período. Extra-oficialmente, entretanto, os grandes industriais, em grande parte, se preparam para assumir posições favoráveis à coalizão de centro-esquerda de Romano Prodi.

Esse é o caso declarado de Diego Della Valle, diretor do grupo de calçados Tods. Hoje, Prodi, que presidiu a Comissão Européia - órgão executivo da União Européia -, se encontra entre os políticos italianos que reúnem maior credibilidade em toda a Europa, até em áreas tidas como conservadoras.

O episódio da divergência entre Berlusconi e Della Valle, antigo aliado do "Cavaliere" (como Berlusconi é chamado) e que hoje afirma ter tido "uma profunda desilusão", foi o estopim dessa guinada dos empresários para a centro-esquerda. A coligação de Prodi reúne centristas, socialistas, verdes e até antigos comunistas.

Isso ocorre apesar de o empresariado temer que um governo social-democrata, como outros na Europa, possa ser caracterizado por uma política fiscal excessiva. A ruptura total aconteceu durante uma reunião da Confindustria com Berlusconi, quando ele perdeu o sangue frio e passou a atacar o diretor da Tods, sentado ao lado do patrão dos industriais, Luca di Montezemolo.

Diego Della Valle, em entrevista ao semanário italiano L'Expresso desta semana, afirma ter sido um empresário que sempre votou Berlusconi e chegou mesmo a financiar sua primeira campanha eleitoral."Acreditei no inicio, mas depois vi a obra. Ele fez tudo ao contrário do que havia prometido e foi um desastre, sem nenhum senso do que representa o Estado. E em matéria de valores, nota zero", acrescentou. Diante disso prevaleceu sua dignidade pessoal que o levou a declarar : "Basta Berlusconi."

Outros são mais discretos por necessidade, em razão das funções que ocupam , caso do presidente da Confindustria e amigo de Della Valle, o presidente da Fiat, Luca de Montezemolo, mas que mantém uma opinião semelhante. A ruptura com os industriais (apesar de ter ainda apoio de empresários das pequenas e médias empresas), os ataques contra a magistratura (acusada de comunista), foram um dos erros estratégicos de Berlusconi, reconhecem alguns de seus principais aliados.