Título: Peru tem eleição acirrada hoje
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Internacional, p. A18

Social-democrata e conservadora travam disputa apertada para ver quem vai ao 2.º turno com o nacionalista Humala

Com a promessa comum de reduzir o índice de 54% da população abaixo do nível de pobreza, 3 dos 20 candidatos inscritos chegam hoje com chances reais de vitória na eleição presidencial peruana. Caso nenhum alcance hoje os mais de 50% de votos necessários para encerrar a disputa no primeiro turno, os dois mais bem votados se enfrentam em 7 de maio.

As pesquisas variam de acordo com o instituto, mas quase todas indicam a liderança do nacionalista Ollanta Humala, da coligação União Pelo Peru, e a acirrada disputa entre a conservadora Lourdes Flores, da Unidade Nacional, e o ex-presidente social-democrata Alan García, da Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), pela outra vaga no segundo turno.

Como Alberto Fujimori, em 1990, e o atual presidente, Alejandro Toledo, em 2000 - quando se retirou do segundo turno denunciando fraude de Fujimori -, o tenente-coronel da reserva Humala é um outsider da política que viu sua candidatura crescer em ritmo acelerado. Seu discurso, de nacionalização dos recursos naturais e luta contra a corrupção, só não é mais explosivo do que as declarações de seus parentes, que incluem a defesa da anistia para líderes dos grupos guerrilheiros Sendero Luminoso e Movimento Revolucionário Túpac Amaru e o fuzilamento de políticos corruptos e homossexuais.

Um de seus irmãos, Ulises, é candidato à presidência pelo partido Avança País. Outro irmão, Antauro - preso por liderar uma revolta em 2005, na qual morreram quatro policiais e quatro sublevados -, é candidato ao Congresso. Ao lado de Antauro, o próprio Ollanta Humala, de 42 anos, esteve em uma revolta militar em 2000.

Lourdes promete combater a pobreza mantendo os bons resultados econômicos de Toledo e atraindo mais capital estrangeiro. García, que praticamente quebrou o país durante seu mandato entre 1985 e 1990, propõe baixar os preços de água, luz, gás e telefone e aumentar o salário de professores e funcionários públicos de baixa renda.

Embora Lourdes tenha apoio dos grandes empresários, terá de enfrentar a máquina do Apra, partido fundado em 1924 e organizado em todo o país.

Além do combate à pobreza, os candidatos têm em comum as críticas a Toledo, incapaz de transformar em capital político o resultado da política econômica que trouxe crescimento de 6,7% em 2005. O partido dele, o Peru Possível, não concorre à presidência e pode não chegar aos 4% de votos necessários para ter bancada no Congresso.

Com Fujimori preso no Chile, cabe à filha dele, Keiko, manter vivo o fujimorismo. Fujimori deixou a presidência e fugiu para o Japão em meio a uma grave crise em 2000. Em 2005, foi para o Chile, de onde pretendia concorrer nas eleições presidenciais, mas o Jurado Nacional de Eleições - equivalente ao brasileiro Tribunal Superior Eleitoral - indeferiu seu pedido de inscrição.

Keiko deve ser a mais votada entre os 120 candidatos ao Congresso eleitos hoje e levar entre 15 e 17 deputados para a bancada fujimorista. Os 16.494.906 inscritos elegerão também os cinco representantes do Peru no Parlamento Andino. O resultado da votação presidencial deve ser conhecido na noite de hoje. Mais de 100 mil soldados e policiais cuidarão da ordem nesse dia. Apesar de desarticulado, depois de quase aniquilado por Fujimori, a ameaça do Sendero permanece. Semana passada, supostos senderistas invadiram povoados na selva convocando um boicote à eleição.