Título: Ruralistas vão cobrar mais rigor dos juízes
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Nacional, p. A13

Deputado e fazendeiro, Lupion diz que o MST quer tomar o poder

As entidades ruralistas estão se movimentando para intensificar as denúncias por crimes e cobrar das autoridades mais ações judiciais contra os líderes dos sem-terra. Um dos principais articuladores desse movimento é o deputado federal e proprietário rural Abelardo Lupion (PFL-PR), que acaba de ser eleito para a presidência da Comissão de Agricultura da Câmara. Na opinião dele, há por todo o País uma situação de conivência com o Movimento dos Sem-Terra (MST).

"Isso representa uma ameaça ao Estado de Direito. É preciso reagir", afirma o deputado. "O MST, que já tinha sido combatido de maneira tímida no governo de Fernando Henrique Cardoso, agora está se sentindo em casa, porque conta com a conivência do atual governo, que o apóia."

Quanto à tese apresentada pelos advogados dos sem-terra, de que o objetivo real da campanha dos ruralistas é criminalizar os movimentos sociais, o deputado é incisivo: "Não se pode chamar de movimento social a invasão de propriedades, a destruição de casas, queima de tratores, ataque a laboratórios de pesquisas genéticas. Isso é terrorismo."

À frente de uma das comissões mais influentes do Congresso, Lupion está convencido de que o objetivo do MST não é a reforma, mas sim a conquista do poder político. "É um movimento bem orquestrado para desestabilizar a produção e conquistar o poder", afirma. "Estão criando uma nova geração de líderes, mais agressiva, num jogo ideológico pesado e financiado com recursos do exterior. Só os cegos não querem ver."

Lupion foi o deputado que, ao fim da CPI da Terra, conseguiu derrubar o texto do relator oficial e aprovar um substitutivo, no qual a invasão de terras com seqüestro dos proprietários foi classificada como crime hediondo, passível de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O MST reagiu divulgando um manifesto no qual pede aos eleitores paranaenses para que não votem mais no deputado.

"Essa não é a primeira nem a última lista que vão divulgar", reage Lupion. "Não me afetam absolutamente em nada. Pelo contrário, quanto mais me atacam, mais votos ganho."

Os representantes dos ruralistas acreditam que a onda de protestos contra os sem-terra que surgiu após a depredação do laboratório da Aracruz, no Rio Grande do Sul, pode criar um ambiente mais propício à criminalização de suas ações. "Está havendo uma mobilização maior para responsabilizá-los", confirma o advogado Nestor Hein, da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul).

Há poucos dias, o presidente da União Democrática Ruralista Nacional (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, encaminhou documento à Procuradoria-Geral da República pedindo o enquadramento de três dos principais líderes do MST: João Pedro Stédile, Jaime Amorin e Clédson Mendes. Segundo ele, é notório que Stédile lidera o MST do ponto de vista ideológico, enquanto os outros dois aparecem como os principais executores da organização.

"Eles estão à frente de bandos que, disfarçados de movimentos sociais, ferem as leis, o Estado de Direito, a ordem pública e social", diz Nabhan.

Segundo o líder ruralista, a UDR nunca recebeu tantos telegramas de protesto contra o MST quanto após a depredação do laboratório em Barra do Ribeiro, em março.