Título: Juro para pessoa física cai ao menor nível desde julho de 1994
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Os juros cobrados pelos bancos nos financiamentos a pessoas físicas recuaram 0,2 ponto porcentual e atingiram a média de 59% ao ano em março. De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, foi o nível mais baixo da série estatística iniciada pelo BC em julho de 1994. A tendência de queda se manteve em abril e, no dia 11, os juros já tinham chegado a 58%.

Segundo Lopes, é possível que o recuo tenha se acentuado após a decisão do Comitê de Política Monetária, no dia 14, de reduzir pela sétima vez seguida a taxa básica Selic. "Mas são taxas ainda elevadas", comentou.

A queda dos juros, poderia ser maior, afirmou Lopes, se os bancos estivessem repassando integralmente aos clientes a redução no custo de captação de recursos que vem ocorrendo desde maio do ano passado. No entanto, o spread bancário (a diferença entre as taxas de captação e de aplicação dos recursos) aumentou de 43,6 pontos porcentuais, em maio de 2005, para 44 pontos no final do mês passado. Nesse período, o custo de captação caiu de 18,9% para 15% ao ano, a menor taxa desde o início da série histórica do BC. "O spread é quase três vez maior que a taxa de captação. É uma diferença muito grande", disse Lopes.

A expectativa do diretor do BC é que o spread comece a ceder neste segundo trimestre. "Temos de levar em conta que o primeiro trimestre sempre é marcado por uma demanda mais forte pelo crédito", ponderou. Com a procura maior, os bancos não se sentem pressionados a reduzir o diferencial entre as taxas de captação e aplicação. Com menos tomadores de crédito, o spread pode começar efetivamente a cair já este mês, segundo Lopes.

O economista Adriano Pitoli, da Consultoria Tendências,no entanto, não prevê queda muito significativa. Segundo ele, a redução do spread será lenta, havendo espaço para um corte de aproximadamente 2,8 pontos porcentuais até o último trimestre deste ano.

A lentidão na queda do spread, na avaliação do economista, pode ser explicada por distorções existentes no mercado de crédito. "Os clientes têm dificuldade, no Brasil, de tomar empréstimo em bancos diferentes daqueles em que mantêm suas contas", disse.

O maior obstáculo para que isso aconteça, segundo Pitoli, é o fato de os bancos terem dificuldade para avaliar com precisão o risco dos novos clientes. "Em função disso, o cliente não consegue tomar empréstimo num banco que esteja oferecendo uma taxa de juro mais baixa e acaba ficando leal à instituição onde tem conta", comentou. A solução, para ele, terá de passar por uma ampliação do atual cadastro positivo do BC e por uma melhora de qualidade das garantias.

Os incentivos para a tomada de empréstimos bancários, de outro lado, são cada vez maiores. "Com renda maior, a tendência é de aumento do crédito", disse Lopes, do BC, ao comentar um eventual impacto do reajuste do salário mínimo sobre a procura por financiamento bancário.

Em março, o volume de crédito concedido pelos bancos a pessoas físicas chegou a R$ 167,2 bilhões, com alta de 2% em relação a fevereiro.

A elevação dos prazos médios é outro fator, segundo Lopes, que tende a puxar para cima o volume de operações de crédito. É que, com prazos mais dilatados, o valor das prestações pagas pelos clientes tende a ficar mais baixo e passa a caber no orçamento das famílias.