Título: Crise não atingirá outras empresas
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

A crise entre o governo boliviano e a EBX não deve se estender a outras empresas brasileiras no país. Essa é a opinião de executivos com atividades na Bolívia consultados ontem pelo Estado, que afirmam não terem sido procurados por autoridades para rever contratos. A opinião geral é que os confrontos com a mineradora de Eike Batista e com a Petrobrás são pontuais e não indicam movimento generalizado contra os brasileiros.

Além das duas empresas citadas, há outras oito companhias do Brasil com escritórios na Bolívia. Cinco delas (Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, A.R.G e Latin Consult) são do ramo de engenharia e construção e tocam projetos específicos como construção de estradas.

Banco do Brasil, Varig e a fabricante de equipamentos de telecomunicações Icatel completam a lista.

"Não recebemos nenhum convite para negociações com o governo nem qualquer ameaça de suspensão dos negócios", disse um executivo de uma empreiteira, que pediu anonimato temendo se envolver em polêmica com o governo Evo Morales. Ele ressalta que a ofensiva do governo contra as duas empresas refere-se ao uso de recursos naturais do país e, por isso, não deve afetar as companhias do setor de construção.

De fato, contra a Petrobrás o governo tem o argumento de que precisa ampliar seus ganhos com as vendas de gás, seu principal produto de exportação. Já no imbróglio envolvendo a EBX, diz que a empresa não tinha licença ambiental para construir uma siderúrgica na fronteira.

As empreiteiras com atuação na Bolívia trabalham prioritariamente em obras rodoviárias, a maioria com financiamento de instituições internacionais, como a Cooperação Andina de Fomento, o que dificulta a tomada de decisões radicais pelo governo Morales.

Outro representante de empreiteira, que também pediu para não ser identificado, disse que os principais problemas enfrentados hoje são os protestos e bloqueios de estrada promovidos por populares, criando dificuldades para que os empregados cheguem ao local das obras.

A Petrobrás enfrentou obstáculo semelhante, após o rompimento de um oleoduto. O bloqueio na principal estrada da região impediu o acesso ao local para o reparo da tubulação, criando o risco de um racionamento de gás no Brasil.