Título: País ficará neutro na guerra do papel
Autor: Elizabeth Lopes e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

O Brasil não deverá interferir no conflito entre Uruguai e Argentina, envolvendo a construção de duas fábricas de papel na fronteira entre os dois países, por entender que esse é um tema que deve ser resolvido bilateralmente, no âmbito do Mercosul. A afirmação foi feita ontem pelo assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que participou de encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, e o da Argentina, Néstor Kirchner, em São Paulo.

Garcia explicou que o governo brasileiro não gostaria que o embate saísse do âmbito do Mercosul, por entender que isso poderia fragilizar ainda mais o bloco regional. ¿A comunidade sul-americana é o palco de resolução de todos os seus conflitos¿, observou, ao comentar a possibilidade de uma das empresas envolvidas recorrer à Justiça internacional.

O conflito entre Argentina e Uruguai começou com o bloqueio da fronteira entre os dois países por ambientalistas argentinos contrários à construção de duas fábricas de papel no lado uruguaio. Na estimativa do governo de Montevidéu, as perdas já superam US$ 400 milhões e a Argentina estaria rompendo a institucionalidade do bloco sul-americano, ao não convocar o Conselho do Mercosul para arbitrar o conflito.

A respeito da reunião de hoje entre Lula, Kirchner e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Garcia disse que a questão energética estará no centro do encontro. ¿É preciso reforçar a segurança energética da região. Os países estão crescendo e, para evitar apagões, como os ocorridos na Argentina e no Brasil, no governo passado, é preciso adotar medidas de segurança.¿

O assessor especial do presidente Lula assegurou que o Brasil tem ¿absoluta tranqüilidade nesse campo até 2011, porém enfatizou que o governo está trabalhando a longo prazo em relação ao tema. Uma das opções que os três países discutem é a construção de um gasoduto de cerca de 10 mil quilômetros ligando os três países. Estudos demonstram que a iniciativa pode custar de US$ 17 bilhões a US$ 25 bilhões e demorar seis anos para ser concretizada.

Sobre as críticas que o projeto vem recebendo, Garcia respondeu: ¿As críticas, são, a meu juízo, obra de especulação de evidência. Até agora, não foi apresentado o projeto técnico e de viabilidade financeira.¿