Título: Colômbia quer ajuda do Brasil
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2006, Economia & Negócios, p. B5

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pediu ontem a ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conter a crise que enfrenta com Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e a convencê-lo a não deixar a Comunidade Andina de Nações (CAN). Lula, que vai se reunir hoje com Chávez, em São Paulo, foi diplomático e acenou com a disposição de colaborar para a melhoria do relacionamento entre os países da região.

Lula não tem interesse em pedir a Chávez que ele continue na CAN, até porque, a Venezuela entrou recentemente para o Mercosul e os dois blocos têm interesses distintos. A posição brasileira, em torno da polêmica, é definida por um interesse específico e uma preocupação: que essa crise entre os diversos países da região não atrapalhe a existência da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), idealizada pelo Brasil, que contempla o sonho de Lula de ter um continente integrado.

Na declaração à imprensa dada ontem, em Brasília, Uribe fez questão de falar do importante papel que Lula na região. Por isso, a solicitação para que intervenha no sentido de acalmar Chávez e para tentar reduzir os ataques do venezuelano aos Estados Unidos, parceiro preferencial da Colômbia.

Uribe ressaltou que o acordo entre a Colômbia e os EUA não prejudica as relações dos países daCAN. Embora Chávez já tenha decidido deixar o bloco, ele continua jogando para a platéia, ao declarar que se a Colômbia e o Peru desistirem do acordo de livre comércio que tem com os Estados Unidos, a Venezuela permanece na CAN.

Para justificar a sua tese de que as boas relações com os EUA não são impeditivas para um entendimento entre os países na região, Uribe lembrou que, se a Venezuela pode vender petróleo para os EUA, por que a Colômbia não pode vender seus produtos agropecuários para os americanos.

Uribe acentuou ainda que, se a Bolívia se sentir prejudicada com o acordo colombiano com os EUA, a Colômbia pode encontrar uma forma de compensá-la.

O presidente contou ainda que, no esforço de melhorar as relações na região, telefonou para Chávez falando da importância de retomarem os entendimentos entre os dois países e a necessidade de serem realizadas novas reuniões bilaterais. "Esperamos que as relações entre Venezuela e EUA se harmonizem."

Mas Uribe não deixou de alfinetar Chávez, ao afirmar que "mais importante do que o debate ideológico de governo, é comprometer-se com o combate à pobreza". E para mostrar que quando o interesse da Venezuela está em jogo, o governo de Chávez também negocia com os americanos, disse: "Se a Venezuela estabelece boas relações comerciais com os EUA, mais facilmente compreenderá a entrada de produtos colombianos nos EUA".

Esta é a maior crise desde a criação do CAN, formada por Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Equador. Na semana passada, Chávez anunciou, que estava saindo do bloco em protesto contra o tratado de livre comércio que a Colômbia e o Peru estão negociando com os Estados Unidos.

Mas segunda-feira Chávez declarou que pode reconsiderar a saída se a Colômbia e o Peru reconsiderarem o tratado com os EUA.