Título: A um mês da prévia, esquenta briga entre Mercadante e Marta
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Nacional, p. A8

Pré-candidatos disputam 190 mil votos dos militantes; região metropolitana de SP pode ser fiel da balança

A menos de um mês da prévia para a escolha do candidato do PT que concorrerá ao Palácio dos Bandeirantes aumentou a temperatura entre a ex-prefeita Marta Suplicy e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, os dois pré-candidatos. Na busca pelo apoio e, principalmente, o voto dos cerca de 190 mil militantes que serão os responsáveis por definir - em 7 de maio - qual dos dois será o adversário de José Serra (PSDB), cada golpe no ringue vem sendo estrategicamente estudado para não cair nas cordas.

Enquanto Marta leva vantagem entre os petistas da capital - segundo o partido, pouco mais de 70 mil filiados têm direito a voto na cidade -, Mercadante aposta suas fichas nos militantes do interior.

Ao que tudo indica, e com base em avaliações de partidários das duas pré-candidaturas, é o desempenho na região metropolitana - que abriga 30% dos filiados do Estado - que pode ser o fiel da balança. O resultado na macrorregião de Osasco, do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha - com seus 15 mil filiados -, pode ser decisivo.

"Na reta final, a temperatura sempre esquenta", anota um petista que tem acompanhado de perto os debates entre os dois pré-candidatos. Hoje, Marta e Mercadante apresentam suas propostas na capital, em mais um de uma série de encontros promovidos pelo Diretório Estadual do PT.

Sem cargo público no momento, Marta tem aproveitado cada minuto para percorrer exaustivamente as principais cidades do Estado. Na condição de líder do governo, Mercadante dispõe de menos tempo. Acaba limitando suas atividades de pré-campanha às sextas-feiras e aos fins de semana. Em contrapartida, o fato de ter cargo de relevância política lhe proporciona maior visibilidade na mídia.

Um dos coordenadores da campanha de Mercadante, o deputado Simão Pedro, avisa, porém, que na reta final da pré-campanha o senador concentrará suas forças em atividades na capital.

A expectativa tanto de apoiadores de Marta quanto de Mercadante é que o quórum na prévia seja superior ao do Processo de Eleição Direta (PED) que, em setembro passado, foi realizado para renovar a direção do partido.

No caso da capital, dos 77 mil aptos a votar, apenas 22 mil o fizeram. Agora, tanto martistas quanto os apoiadores de Mercadante esperam a presença de pelo menos 30 mil filiados na maior cidade do País. "A expectativa é que o quórum seja maior do que o registrado no PED não apenas em São Paulo, mas em todo o Estado", confirma um dos interlocutores da ex-prefeita.

Marta também aposta no trabalho que desenvolveu na Prefeitura de São Paulo para conseguir vencer a prévia. Ela tem insistido na tecla de que por ter administrado a cidade, "abandonada por Serra após 15 meses de governo", tem mais condições de fazer o enfrentamento com o tucano. Mercadante e a cúpula petista pensam diferente. Na avaliação de boa parte da direção do PT, o senador é mais preparado para enfrentar Serra na sucessão de Geraldo Alckmin (PSDB).

Os partidários de Marta colocam em dúvida a preferência da cúpula por Mercadante. Um dos interlocutores da prefeita, por exemplo, assegura que, dos 23 membros da Executiva Estadual, 12 estão com Marta. Por via das dúvidas, ironizam o apoio da direção a Mercadante. "Deixa o Mercadante ser o candidato da cúpula. A gente prefere ficar com o povo", alfineta. Em seguida, completa: "A cúpula costuma ser pé-frio."

Ele cita como exemplo as prévias realizadas em 1988 e 1996 para a escolha dos candidatos do PT à Prefeitura de São Paulo. "A Erundina (a ex-prefeita e ex-petista Luiza Erundina) não era a candidata apoiada pela cúpula e acabou vencendo (Plínio de Arruda Sampaio). Em 1996, o Mercadante era o candidato da direção e perdeu a prévia para a Erundina", recorda o partidário de Marta. Se os exemplos se confirmarem, tudo indica que Serra e Marta novamente estarão frente a frente, como em 2004, quando o tucano enfrentou e venceu a petista.

Defensor da candidatura de Marta, o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, integrante da Executiva Nacional, assegura que a direção da sigla não se posicionou a favor nem de Marta nem de Mercadante.

"A direção nacional não tem posição sobre nenhum dos dois. A maioria dos membros, até onde sei, não apóia ninguém, até porque nem de São Paulo é. Na parte que apóia, vejo ligeira vantagem de Marta."

Prefeito de Osasco, a mais importante cidade do Estado administrada pelo PT e município tido como o possível "definidor" da prévia, Emídio de Souza avisa que até a metade deste mês vai manifestar seu apoio. Até aqui, diz não ter tomado posição. A definição será costurada em conversas com João Paulo, que também havia se colocado como pré-candidato - mas abriu mão depois que apareceu na lista de Marcos Valério.

"A decisão será tomada levando em conta os interesses partidários", promete Emídio. Marta e Mercadante aguardam ansiosos.