Título: Utensílio de pressão
Autor: DORA KRAMER
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Nacional, p. A6

Pergunte-se para quem sabe das coisas - e principalmente dos números - dentro do PMDB qual o significado do lançamento do nome de Itamar Franco para presidente e a resposta surge direta, sem contemplação: trata-se de uma artimanha de Orestes Quércia para entrar na roda dos negociadores da tríplice aliança (PSDB-PFL-PMDB) com a qual os tucanos sonham para tentar derrotar o presidente Luiz Inácio da Silva no primeiro turno.

Por essa versão, sustentada na ausência de interesse das alas governista e oposicionista em ter Itamar como candidato - muito mais um problema que uma solução -, Quércia andava se sentindo preterido nas rodadas de conversas entre Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Anthony Garotinho.

Como comandante em chefe da máquina pemedebista em São Paulo, considerou a indiferença um acinte. Queria ser chamado a conversar, influir e, de preferência, ser o candidato do grupo ao Senado. Se conseguirá é outra história, mas o tucanato, devidamente informado dos desejos do ex-governador de São Paulo, já providenciou um lugar para ele à mesa das negociações.

Com isso, o tema Itamar Franco tende a sair de cena para dar lugar à intensificação das tratativas no sentido de o PSDB dar a vaga de vice ao PMDB, seja para Anthony Garotinho ou para um nome do Nordeste como o ex-governador de Pernambuco e candidato ao Senado, Jarbas Vasconcelos.

Antes disso, porém, é preciso dissolver a tese da candidatura própria a bordo da qual os oposicionistas do PMDB passaram os últimos três anos e meio segurando o partido para que não caísse de vez nos braços de Lula e dos favores que só um poder federal sabe proporcionar.

O PFL, já se sabe, não será obstáculo, pois considera-se (por mais que faça outro jogo de cena) bem atendido com a Prefeitura de São Paulo até 2008 e o governo do Estado até 31 de dezembro próximo, mais alianças regionais.

O primeiro passo do PMDB para rumar à aliança será dado numa reunião da Executiva do partido, dia 18, cuja pauta é a seguinte: a manutenção da candidatura ou a análise (veja o leitor a sutileza) da possibilidade de os pemedebistas concorrerem aliados ao PT ou ao PSDB.

Os especialistas nas internas do PMDB apostam que dá a segunda opção. Aí começa uma nova fase. No cabo-de-guerra em que os governistas puxarão para Lula e os oposicionistas para Alckmin, a contabilidade por ora dá vantagem aos tucanos.

A candidatura presidencial conta, é claro, mas a preferência guarda muito mais relação com as possibilidades de composições estaduais. A coligação, muitas vezes incluindo os três partidos, já está praticamente acertada em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais.

Nos Estados de Alagoas e Maranhão, dos maiores defensores de Lula dentro do PMDB - os senadores Renan Calheiros e José Sarney -, nada une e tudo distancia o PMDB do PT. Daí, mais uma complicação para Lula poder considerar, numa avaliação realista, a hipótese de contar com o cobiçado partido.

Mas, por causa da divisão e apesar da vantagem, os oposicionistas tampouco terão facilidade para aprovar, em convenção, uma coligação oficial. Sem ela, não há vice do PMDB e o partido fica então liberado conforme o que der e vier e vice-versa.

Mas já estão índios e caciques do PMDB conscientes de que tirar Anthony Garotinho do jogo da sucessão, agora que não tem mais condições legais de se candidatar a deputado, não será tarefa para poucos nem para fracos.