Título: Com caixa 2 na mira, candidatos adiam início da campanha
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2006, Nacional, p. A4

Receosos de denúncias, políticos querem corrida eleitoral curta e sem os grandes efeitos publicitários do passado

Como fazer uma campanha eleitoral sem o uso de caixa 2? Por desconhecerem a resposta, políticos de todos os partidos estão retardando o início da campanha de 2006. Enquanto hesitam sobre o que fazer, os candidatos adiam a contratação de marqueteiros, rejeitam doações, postergam gastos mais notórios e usam artifícios para criar fatos políticos e aparecer sem evidenciar grandes despesas. Na eleição de 2002, os candidatos tinham suas campanhas estruturadas em abril.

Os candidatos de 2006 temem a fiscalização dos tribunais, da imprensa e dos adversários e aguardam os primeiros movimentos do rival para demarcar os novos padrões da campanha. Mas tem-se como certo que o formato das campanhas mudará neste ano. Como a fonte secou, a prevalência da publicidade - criações mirabolantes, trucagens digitais, artifícios visuais, pontuados por intervenções de artistas famosos - deverá ser substituída por versões mais jornalísticas.

Agora, os políticos querem que as suas campanhas transcorram dentro das regras da Lei Eleitoral, sejam curtas, comecem lá por julho e não tenham aparência magnificente. O problema é que o modelo de propaganda política brasileira - centrado na TV - reflete o padrão televisivo brasileiro, que, além de excelente, custa caro. Foi esse padrão, a que está condicionado o eleitor brasileiro, que encareceu as campanhas eleitorais a partir de 1996.

VANTAGEM

O pré-candidato Geraldo Alckmin já teve mais de dez ofertas de horas de vôo em jatinho e recusou todas. Tem preferido viajar em vôo de carreira ou fazer o partido pagar pelo avião. Mas quem disputa a reeleição - como Luiz Inácio Lula da Silva - leva vantagem. O tênue limite que separa a gestão pública do palanque eleitoral permite fazer campanha simulando desempenhar função no governo.

A Lei Eleitoral não mudou - e ainda favorece a formação de caixa 2. O que se diz no setor é que a maioria dos políticos evita usar caixa 2 menos por amor à lei e mais por receio de denúncias. Mas alguns começam a perder o medo. Um consultor político sondado esta semana por um candidato a governador em um importante Estado nordestino respondeu-lhe que só faria sua campanha com notas fiscais. Ouviu como tréplica que não deveria se preocupar, porque o foco da fiscalização deve incidir mais sobre as campanhas presidenciais.

Os candidatos querem gastar menos, mas sabem que as campanhas devem se adequar a padrões mínimos de qualidade. "Precisamos de mais cabeça e menos boné", ironiza José Roberto Berni, que trabalhou na DM-9 e hoje é autônomo, insinuando que as campanhas exigirão mais inteligência e menos parafernália. A consultora Cila Schulman adverte: "Uma propaganda ruim pode ser associada a uma incapacidade do candidato para governar bem."

Retardar as campanhas é uma forma de barateá-las. Para ocupar os espaços políticos, os candidatos recorrem a truques. O jornalista Ricardo Carvalho, que faz as campanhas do PMDB-PE, diz que as campanhas do ex-governador Jarbas Vasconcelos para o Senado e de seu vice, Mendonça Filho, que ficou no governo e vai para a reeleição, só começam em julho. Jarbas viajou para a República Checa e, na volta, interna-se num escritório para receber pessoas, o que lhe renderá fatos políticos e custará o mínimo.

Na semana passada, ao desembarcar em Brasília para a primeira reunião com a Executiva do PSDB, Alckmin enfrentou um batalhão de jornalistas tendo a seu lado apenas o ajudante-de-ordens, um capitão da PM paulista. Aliados de Alckmin dão como certo que as campanhas dele e de José Serra serão feitas pela produtora GW, que costuma trabalhar para os tucanos, mas informam que até agora o pré-candidato presidencial não fechou o contrato.

Do lado do PT, o consultor João Santana, levado para trabalhar com o presidente Lula pelos ex-ministros Antonio Palocci e Jacques Wagner, passou a se sentir desconfortável no Palácio do Planalto depois que seus padrinhos, por razões diferentes, saíram do governo. Lula usa sua intuição para aproveitar as viagens presidenciais e emitir mensagens com cunho eleitoral. Mas não tem tido a orientação de Santana, que ainda não ouviu dele uma palavra sobre sua eventual contratação para a campanha.