Título: Febem assume confronto com ONGs
Autor: Alessandra Pereyra
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Metrópole, p. C1,3

Presidente da fundação reforça ataques de Lembo; após motins no Tatuapé foram achadas 60 facas e 6 celulares

Um dia depois do governador Claudio Lembo (PFL), ontem foi a vez de a presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), Berenice Giannella, atacar organizações não-governamentais (ONGs) ligadas a adolescentes. Berenice disse que os dois últimos motins no Complexo do Tatuapé aconteceram após visitas de integrantes dessas ONGs. No último deles, internos praticamente destruíram anteontem as Unidades 14 e 23, que podem ser demolidas. Foram achados com os adolescentes 60 naifas (facas improvisadas), 6 celulares e 2 carregadores.

Segundo Berenice, há uma semana estiveram no complexo entidades como a Associação de Mães e Amigos de Crianças e Adolescentes em Risco (Amar), presidida por Conceição Paganele, e o Movimento Nacional de Direitos Humanos, representado pelo advogado Ariel de Castro Alves. Para Berenice, Conceição só contribuiu para agitar os jovens. "Ela insufla a manifestação", disse.

A presidente da Febem mostrou cópia de um boletim de ocorrência feito no 81º Distrito a pedido de funcionários da fundação. Nele, os servidores acusam Conceição de tê-los chamado de "pobres, miseráveis e vagabundos" diante dos internos.

Para Berenice, a forma de atuação das entidades está "fora de moda". "As ONGs deveriam ter uma postura de colaboração, de ajudar o governo e até assumir unidades." As críticas atingiram também o promotor da Infância e Juventude, Thales de Oliveira. "Ele quer falar em cultura carcerária, mas nunca visitou o complexo."

O valor do prejuízo causado pela destruição de anteontem ainda não foi calculado. Foram tiradas fotografias do estrago, que serão anexadas a um relatório que o Estado enviará à Organização dos Estados Americanos (OEA). Uma delas mostra um símbolo do Primeiro Comando da Capital (PCC) pintado na parede. "Mas desconheço qualquer envolvimento do PCC com os jovens", afirmou Berenice. Dos 44 agentes e 18 internos feridos, continuava internado ontem o funcionário Adílson de Jesus, com fratura na tíbia. "Apesar desses números, não houve mortes nem fugas."

Estão em andamento sindicâncias para apurar a responsabilidade pelos motins e denúncias de abusos de funcionários. Berenice ouviu ontem dos infratores várias versões sobre o início dos motins: briga entre internos, denúncias de maus-tratos e "opressão". "Na verdade, não havia uma reivindicação."