Título: Governo é contra operação de salvamento
Autor: Irany Tereza, Ricardo Grinbaum
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Economia & Negócios, p. B19

Segundo técnicos da área econômica, paralisação causaria menos estragos do que se pensa

Apesar da forte pressão de alguns setores para que o governo federal ajude financeiramente a Varig, a área econômica mantém posição contrária a qualquer operação de socorro que possa colocar recursos públicos em risco. Para justificar essa posição, os técnicos têm procurado convencer os políticos que uma eventual paralisação das atividades da companhia aérea, de uma hora para outra, causaria menos estragos no setor aéreo do que se pensa.

"Até uns anos atrás, a Varig era um iceberg que ameaçava afundar o navio, mas hoje não é bem assim", afirmou ontem ao Estado um dos técnicos envolvidos na questão, usando a comparação com a tragédia do navio Titanic. O raciocínio é que há cerca de dez anos, com o mercado aéreo brasileiro bem menos competitivo do que atualmente, a Varig detinha o monopólio das linhas aéreas internacionais do País e era responsável por cerca de 70% do mercado interno de transporte de passageiros.

Atualmente, com a entrada no circuito de outras empresas, muitas delas companhias regionais, a participação da Varig no mercado doméstico caiu para algo em torno de 20%. A Varig tem ainda uma presença bastante forte no cenário internacional, já que detém em torno de 70% das rotas do Brasil para outros países. "Mas existem alternativas, não é mais um monopólio", argumentou a fonte.

Desde o início da semana, quando o presidente da Varig, Marcelo Bottini, reconheceu o agravamento da situação financeira da empresa e solicitou audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar do assunto, circulam estudos para uma operação salvamento da empresa.

Uma das idéias é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) conceder financiamento a um investidor interessado em adquirir parte do capital da Varig, uma operação conhecida como "empréstimo-ponte". Uma operação desse tipo não é rejeitada a priori e já foi feita, no final do ano passado, para financiar a compra da Varig Engenharia e Manutenção (VEM) pela companhia portuguesa TAP. Por parte da equipe econômica, no entanto, a posição é que qualquer operação do tipo precisa ter respaldo técnico.

O banco, na verdade, praticamente descartou a possibilidade um empréstimo direto à empresa. Uma nova interferência do banco na crise da Varig só deverá ocorrer para financiar um eventual comprador da companhia aérea. E mesmo a liberação de financiamento a investidores, pelos critérios técnicos, só será possível com a apresentação de garantias reais. No caso da TAP, as garantias foram dadas pelo Tesouro português.

ANTECIPAÇÃO

Os recursos do BNDES para o grupo português foram correspondentes a 66,6% do investimento total da TAP na VEM, de US$ 62 milhões. A TAP quitou, antecipada e integralmente, o empréstimo tomado no banco. O financiamento, liberado em novembro do 2005, equivalia, na época, a US$ 41 milhões, e o prazo total para pagamento era de 63 meses.

Em janeiro deste ano, dois meses depois de contrair o empréstimo, a empresa pagou ao banco o equivalente a US$ 43 milhões, arcando com a incidência proporcional dos juros calculados por uma cesta de moedas mais 4,5% ao ano.