Título: OceanAir oferece US$ 80 milhões para assumir a Varig
Autor: Irany Tereza, Ricardo Grinbaum
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Economia & Negócios, p. B19

Em troca, empresa ficaria, depois desse período, com 10% das linhas e dos espaços nos aeroportos

A OceanAir, companhia aérea do empresário German Efromovich, apresentou uma proposta para assumir pelo menos parte da Varig. Segundo fontes ligadas às negociações, o plano começou a ser discutido no início do mês passado e já foi apresentado ao governo. Na quarta-feira, Efromovich se reuniu em Brasília com o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. Sua proposta é uma alternativa à oferta de compra da Varig feita pela VarigLog, controlada pelo fundo americano Matlin Patterson, praticamente descartada pelos credores.

Existem duas alternativas para o negócio. Na primeira, a OceanAir desembolsaria US$ 80 milhões e assumiria a companhia por seis meses. Durante esse período, a Varig e a OceanAir adotariam o regime de "code share", em que uma empresa pode transportar passageiros da outra. A OceanAir ganharia autorização para usar as rotas, os espaços e horários reservados para a Varig nos aeroportos. Em troca, além de desembolsar os US$ 80 milhões, a OceanAir pagaria as contas da Varig durante o período, excluindo as dívidas antigas.

Ao final do período, a parceria seria desfeita e a OceanAir teria o direito de ficar com pelo menos 10% das linhas e dos "slots" - horários reservados nos aeroportos - que hoje pertencem à Varig. Este é o grande interesse da OceanAir. A empresa está crescendo rapidamente, mas menos do que poderia. Seu principal empecilho é que a parte mais importante do mercado aéreo está dividida entre Varig, TAM e Gol. É muito difícil obter uma autorização para operar novas linhas em aeroportos como Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ).

O grande atrativo da proposta para o governo é a possibilidade de ganhar tempo para negociar com os credores e buscar uma solução definitiva para a Varig. Não será uma decisão fácil. Há grupos dentro do governo que resistem às tentativas de aproximação de Efromovich. Dono da Marítima, empresa de construção de plataformas de petróleo, ele mantém há anos uma disputa bilionária com a Petrobrás na Justiça. Além disso, sua oferta teria de ser aprovada pelos credores.

A segunda proposta em estudo é mais modesta. Segundo fontes que participam das negociações, a Varig estaria saindo de rotas que dão prejuízo em cidades na Região Sul, justamente onde começou a voar. A Ocean Air assumiria as linhas com aviões Fokker 100 - rebatizados com o nome de MK-28, para fugir da má fama que ganharam com o desastre da TAM em São Paulo, em 1996. Os aviões da OceanAir foram comprados da American Airlines por US$ 200 milhões, com financiamento do BNDES.

O acordo, segundo as fontes, seria uma espécie de fretamento. A Varig venderia as passagens e a OceanAir faria os vôos, com sua própria tripulação. Fariam parte da negociação rotas para cidades como Caxias do Sul e Passo Fundo (RS) e Navegantes (SC).

Esta não é a primeira vez que Efromovich demonstra interesse pela Varig. No ano passado, o empresário fez uma proposta para assumir a empresa por US$ 200 milhões. A Fundação Ruben Berta, dona da Varig, rejeitou a oferta. Na época, argumentou-se que não haveria retorno financeiro para os controladores da empresa.

A OceanAir foi criada em 1998 como empresa de táxi aéreo para prestar serviços a empresas do setor de petróleo, na Bacia de Campos (RJ). Assim como na Marítima, Efromovich tem demonstrado ousadia na OceanAir. Há pouco mais de três anos, a companhia aérea começou a operar linhas regionais entre os aeroportos de Guarulhos, Santos Dumont, Macaé e Campos. Há um ano, comprou a companhia aérea colombiana Avianca. Conseguir pelo menos parte da Varig é o novo objetivo do empresário.