Título: 'Argentina tem de sair para vender'
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Economia & Negócios, p. B9

Furlan diz que Brasil está aberto a produtos do país, mas indústria argentina tem de vir oferecer esses produtos

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que 'não entende' por que a Argentina não consegue exportar mais para o Brasil, e aconselhou o país a 'sair para vender' seus produtos. 'Não dá para entender como a indústria argentina, tendo a vantagem que tem hoje, de uma taxa de câmbio de 3 por 1 e um juro bem menor (que o brasileiro), e com o crescimento local da economia, não aumenta com maior velocidade a produção e vendas no Brasil', disse Furlan durante o Fórum Econômico Mundial.

'O Brasil não coloca nenhuma barreira importante a produtos argentinos e são bem-vindas as importações.' Furlan disse que recomendou aos colegas do país vizinho e da União Industrial Argentina que venham oferecer seus produtos no Brasil. 'Talvez o país tenha que dar um passo adiante, de sair para vender seus produtos.O Brasil vinha sendo comprado e resolvemos que sairíamos para vender.' Com isso, disse o ministro, as exportações brasileiras dobraram em três anos, e 55% das vendas são de produtos industrializados. 'Isso não ocorreu por acaso: os empresários brasileiros saíram do País com seus produtos para oferecer no mundo inteiro', disse. 'A Argentina é bem-vinda no Brasil. A única disputa que nós temos ainda é no futebol.'

O ministro deu a entender que a Selic terá de cair abaixo de 14% até o fim do ano para os juros reais ficarem em um nível que ele considera adequado, de um dígito. 'O juro brasileiro real tem que se manter em um dígito. Então, se a meta de inflação começa a ser avaliada em 4%, eventualmente menos de 4%, significa que a Selic terá de ficar em algo parecido com 14%, ou menos.'

A proposta de reforma da legislação cambial, que está no Congresso, talvez não saia em 2006, por ser ano eleitoral, afirmou Furlan. Foi uma alfinetada no presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, sobre a demora para implementar um mecanismo de compensação de moedas no Mercosul. 'Os dois presidentes do BC (Meirelles e Martin Redrado, da Argentina) estão certos no argumento de que não é especialidade do BC tomar esse tipo de risco, mas se empresas pequenas dentro do Mercosul puderem negociar em suas moedas, teremos um grande incremento de negócios, e compete à autoridade monetária refazer o regulamento', disse o ministro.

Segundo ele, dois passos precisam ser tomados: tirar a obrigatoriedade de uma venda para o país vizinho ser feita em dólar ou facilitar para que seja feita numa moeda local; e criar um mecanismo que dê liquidez para as compensações serem feitas em moeda local O ministro continua otimista em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). 'Acredito que há uma convergência dos índices e que o Brasil pode realmente crescer mais de 5% este ano.' ?