Título: Trocas no banco são recebidas lá fora com tranqüilidade
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

Novos nomes devem ampliar perfil técnico do Copom

Analistas de bancos e fundos estrangeiros receberam com absoluta tranqüilidade as mudanças anunciadas ontem na diretoria do Banco Central (BC), que já vinha sendo previstas há algum tempo. Paulo Vieira da Cunha (ex-HSBC) e Mário Mesquita (ex-ABN) assumem a Diretoria de Assuntos Internacionais e a Diretoria de Estudos Especiais, respectivamente. Os dois são bem conhecidos pelos investidores estrangeiros e considerados economistas competentes, com fortes credenciais ortodoxas.

Na opinião do diretor da Modal Asset Management, Alexandre Povoa, a troca vai acalorar o debate de idéias sobre o rumo dos juros, De acordo com ele, o Comitê de Política Monetária (Copom), que contava com quatro votos técnicos em política monetária (Afonso Beviláqua, Alexandre Tombini, Rodrigo Azevedo e Alexandre Schwartsman), agora ganhou mais um com este perfil.

Segundo seu raciocínio, os novos integrantes substituirão Tombini e Schwartsman, respectivamente, mantendo o padrão de conhecimento da política monetária.

Para alguns analistas, as mudanças chegam a ter viés positivo, pois reforçam a expectativa de continuidade da política macroeconômica. Além disso, diante da aproximação das eleições de outubro, alguns investidores questionavam a capacidade do BC de atrair nomes de peso para sua equipe em 2006.

TRANQÜILIDADE "Partem dois economistas muito competentes, entram dois outros muito competentes", disse ao Estado o economista sênior do Dresdner Kleinwort Wasserstein, Nuno Camara. "Mas considero que a mudança tem um tom positivo, pois o Banco Central mostrou que não tem dificuldades de atrair profissionais do mercado de altíssimo calibre, apesar do processo eleitoral."

Além disso, acrescentou Camara, a entrada de Mesquita e Cunha na equipe "mostra que eles têm convicção de que a política monetária não será alterada"."Os novos diretores são economistas muito capacitados e ortodoxos, portanto não alterando o perfil da diretoria do Banco Central."

Henry Stipp, estrategista do fundo britânico Threadneedle Investments, observou que a troca de cadeiras no BC não afetou os mercados. "Todo mundo está tranqüilo e quase ninguém ressaltou o fato aqui fora."

Em São Paulo, os economistas Edmar Bacha, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria, também avaliaram como positiva a troca no BC, e consideraram os nomes "excelentes".

Para Loyola, a modificação na diretoria da instituição não inspira receio sobre mudanças na política monetária.