Título: BC muda e fica mais conservador
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

Confirmação dos nomes de Mário Mesquita e Paulo Vieira da Cunha dissipa temores de mudança de rota

Os sinais de autonomia do Banco Central (BC) e de preservação da atitude conservadora no processo de redução das taxas de juros foram reforçados ontem com a indicação dos economistas Mário Mesquita e Paulo Vieira da Cunha para ocupar cargos na diretoria do BC. A indicação foi bem recebida pelo mercado financeiro doméstico e internacional.

"São nomes excelentes e que dissipam definitivamente os temores de intervenção política no BC", disse uma fonte. Essas preocupações surgiram na substituição do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, pelo ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, conhecido pela defesa de uma queda mais acelerada das taxas de juros. Mantega, depois de uma semana no cargo, já assume ter o mesmo discurso da área econômica.

O primeiro movimento do governo de fortalecimento do BC ocorreu com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer prevalecer a condição de ministro do presidente da instituição, Henrique Meirelles, o que garantiu a Meirelles independência em relação ao Ministério da Fazenda. Ontem, com a troca na diretoria, o presidente do BC, reafirmou a autonomia da instituição porque levou para seus quadros economistas especializados em macroeconomia e considerados conservadores pelo mercado.

A indicação de Mário Mesquita e Paulo Vieira foi discutida com o presidente Lula e com Mantega. "Houve sintonia absoluta", disse uma fonte.

A ida do atual diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do BC, Sérgio Darcy, para a presidência do Conselho Deliberativo da Fundação Centrus também fortalece a autonomia do BC. "A indicação de Darcy foi feita para evitar uma partidarização da Centrus", disse uma fonte.

O diretor, no entanto, estará assumindo o cargo após quarentena, para fazer mudanças na diretoria da Centrus, mantida desde 1999. A atual diretoria já recebeu autos de infração da Secretaria de Previdência Complementar por causa de irregularidades em aplicações na Bolsa de Valores e pela perda de R$ 36 milhões após a intervenção no Banco Santos.

No lugar de Darcy, ficará o atual diretor de Estudos Especiais, Alexandre Tombini, que tem grande conhecimento do mercado de crédito.

A indicação dos novos diretores de Estudos Especiais, Mário Mesquita, e de Assuntos Internacionais, Paulo Vieira da Cunha, não significa aumento da linha conservadora do BC. "Não consigo ver nenhuma tendência de mudança nas linhas gerais da política do BC", disse o economista do Banco Prosper, Carlos Cintra.

A maioria das previsões do mercado para a trajetória de juros não sofreu alteração com o anúncio dos novos diretores. "Os juros cairão 0,75 ponto porcentual neste mês e no próximo e depois passarão a ser reduzidos mais lentamente", disse um analista. Neste cenário, a taxa de juros poderia chegar ao fim do ano abaixo dos 14%.

Menos otimista, o economista do Banco Prosper acha que as preocupações com os gastos públicos farão o BC reduzir os juros mais lentamente. "Devemos terminar o ano com juros ainda de 14,5%."

Em dezembro, o novo diretor de Estudos Especiais, Mário Mesquita, chegou a avaliar que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia cortar a taxa de juros em 0,75 ponto porcentual. "De fora, as coisas são diferentes. Ao passar a ocupar um assento no Copom, a tendência será a de ficar mais cuidadoso", avaliou Cintra.

Para um dirigente, as mudanças anunciadas ontem serão as últimas da gestão de Meirelles. "Saiu agora quem queria sair. Quem estava cansado. Não temos mais ninguém saindo."