Título: Berlusconi quer a ONU na eleição
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Internacional, p. A21

Primeiro-ministro diz temer fraudes e acusa juízes, oposição e jornais de tramar seu afastamento do poder

A campanha para as eleições gerais de domingo e segunda-feira na Itália chega hoje ao fim num clima de forte tensão, provocada por novas denúncias do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Ele disse que os juízes de Milão, a oposição de centro-esquerda e alguns órgãos da imprensa participam de uma trama para afastá-lo do poder, mediante uma insidiosa campanha de difamação contra ele junto ao eleitorado italiano. "Em conseqüência disso, a Itália necessita da presença de observadores internacionais das Nações Unidas para evitar possíveis equívocos", afirmou. Se esse recurso à ONU ocorrer, será um fato inédito num país da União Européia.

A reação do líder de centro-esquerda Romano Prodi foi imediata. Ele classificou de "inconsistentes" os argumentos do adversário, lembrando que a Itália é um país democrático. "Dispomos de todos os instrumentos de controle de uma eleição."

O nível da campanha eleitoral foi dos mais baixos. Prevaleceram os ataques pessoais e ofensas vulgares, que muitas vezes chocaram a opinião pública. Isso se refletiu na audiência do segundo debate entre ambos, realizado na segunda-feira. Segundo pesquisas, ele teve uma audiência de 12 milhões de telespectadores - 4 milhões a menos que no primeiro debate, em março. Berlusconi é apontado como principal responsável pela constrangedora campanha política que prejudicou a imagem de seu governo e da própria Itália. Tanto que órgãos de imprensa europeus e americanos fizeram fortes críticas ao desenvolvimento do processo eleitoral italiano.

A campanha eleitoral na Itália não ocorre apenas nos comícios em praça pública, mas principalmente na TV e jornais. Berlusconi controla várias emissoras privadas (de propriedade dele) e também públicas (como chefe de governo). A rede pública de rádio e televisão RAI e as emissoras da Mediaset (grupo do Berlusconi) detêm juntas quase 50% da audiência e abocanham 70% de toda publicidade veiculada no sistema. Só a RAI faturou 3 bilhões em 2005.

Em menos de um mês, a Mediaset foi multada duas vezes (em 150 mil e 250 mil) porque seus três canais violaram a lei eleitoral que exige equilíbrio na divulgação de propaganda de cada partido. Esses canais deram mais espaço a seu proprietário, Berlusconi.