Título: PT empurra decisão sobre futuro de mensaleiros para depois da eleição
Autor: Vera Rosa, Wilson Tosta e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2006, Nacional, p. A4

O PT decidiu empurrar para depois das eleições a apuração das responsabilidades de deputados e dirigentes do partido envolvidos no escândalo do mensalão, mas, na prática, não deve punir ninguém. A resolução foi tomada ontem, no encerramento do 13º Encontro Nacional do PT, um dia depois de o partido ter aprovado formulação genérica, mencionando que as acusações de corrupção deveriam ser investigadas, mas sem entrar em detalhes sobre como e quando isso seria feito, conforme acertado com o Planalto.

Diante das pressões da opinião pública, porém, a cúpula do PT foi obrigada a produzir um novo texto. Nele, remete para o Diretório Nacional a missão de estabelecer "prazos e procedimentos" para averiguar quem são os culpados pela maior crise do partido e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O documento, que passou pelo crivo do plenário, resultou de acordo entre as tendências. O texto diz ser necessário evitar que o processo de apuração seja "constrangido pela dinâmica eleitoral e/ou manipulado pela oposição de direita".

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), avisou que o assunto não entrará na agenda de maio. "Isso vai ser jogado para o primeiro diretório depois da eleição, previsto para dezembro", afirmou Berzoini, que integra a corrente Articulação/Unidade na Luta. "Não se trata de fazer Comissão de Ética nem de caça às bruxas. Não se trata da apuração de responsabilidades individuais, mas de uma discussão sobre os motivos que levaram algumas pessoas a agir em desacordo com as normas do PT."

Desde a eclosão do escândalo que aniquilou o discurso da ética petista, há quase um ano, o PT expulsou seu tesoureiro, Delúbio Soares, e abriu uma comissão de sindicância para investigar os deputados João Paulo Cunha (SP), Professor Luizinho (SP), José Mentor (SP), Josias Gomes (BA), João Magno (MG) e Paulo Rocha (PA), acusados de receber dinheiro do valerioduto. Rocha renunciou ao mandato. A sindicância, que não incluiu o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, foi sepultada sem conclusão.

"O processo de apuração não se encerrou, mas nós não vamos adotar uma atitude ingênua", insistiu o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, do grupo Articulação de Esquerda. "A prioridade é a eleição do nosso companheiro Lula na Presidência."

O fantasma do mensalão, no entanto, rondou o encontro petista, na quadra do Sindicato dos Bancários. Depois de uma reunião de três dias para definir as diretrizes do programa de Lula à reeleição e a política de alianças, o partido teve de tocar no assunto a contragosto. "Mensalão é uma tese que alguns defendem, que teria havido, mas não há provas", disse o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci. A alegação de muitos petistas é de que o fórum adequado para essa discussão é o 3º Congresso do PT, no segundo semestre de 2007, para não contaminar o período eleitoral.

"Mais contaminado do que já está?", protestou o secretário-geral do PT, deputado Raul Pont, da Democracia Socialista (DS). Pont prometeu cobrar, ainda neste mês, um calendário para iniciar as investigações.

SEM POLÊMICA

O acerto para aprovar a resolução sobre o mensalão foi mais um dos acordos que transformaram o 13º Encontro do PT numa reunião muito diferente das outras: morna e sem polêmicas. Também houve acordo em torno de uma ampla política de alianças e do programa econômico. "Vocês queriam cadeiras voando?", perguntou Pomar.

Além da crise, os acertos expressaram o fim do domínio do Campo Majoritário, grupo moderado ao qual pertence Lula. "Não tem mais rolo, nem compressor, porque eles não têm maioria", disse o secretário-geral adjunto do PT, Joaquim Soriano, da DS. "Foi um encontro onde o tacão do ex-Campo Majoritário não ameaçou mais. Agora não é mais a política do 'ou está comigo ou está morto'."