Título: Petistas querem mudar economia no 2º mandato
Autor: Vera Rosa, Wilson Tosta e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2006, Nacional, p. A5

Com 33 emendas que fazem uma lipoaspiração em alguns trechos considerados muito elogiosos à política econômica desta gestão, o 13º Encontro Nacional do PT manteve as críticas ao Banco Central, à política de juros altos e ao superávit primário no documento que trata das diretrizes para o programa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.

"É um documento que defende uma inflexão para o segundo mandato", resumiu o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar. O texto aprovado no encontro, com aproximadamente 1.200 delegados de todo o País, afirma que a autonomia operacional do Banco Central, "maior do que em períodos anteriores", permitiu uma política monetária (...) que se chocou, mais de uma vez, com as bases sociais do governo e do próprio governo".

Ao destacar que o BC precisa estar "sintonizado" com os grandes problemas nacionais, a plataforma aprovada pelo PT como roteiro para o programa de Lula sustenta que, além de ser a guardiã da moeda, a instituição monetária deve se preocupar com o crescimento, o emprego e o bem-estar social.

"No conjunto da política econômica, também temos de tratar das metas de crescimento e de desenvolvimento", argumentou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), eleito para coordenar a campanha à reeleição de Lula.

Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária, foi o autor de boa parte das emendas que tiram as referências laudatórias à política antes conduzida pelo ministro Antonio Palocci, ex-titular da Fazenda - ele foi demitido sob a acusação de quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

"Na parte do balanço do governo Lula, o documento sobre diretrizes do programa contém afirmações que contradizem os itens finais do texto", observou Singer. "Está colocado ali que todas as posições tomadas na economia deram muito certo e salvaram o País. Há várias interpretações possíveis para o que aconteceu em 2002, no governo Fernando Henrique, quando houve a crise de fuga de capitais. Mas precisamos refletir sobre o seguinte: se aquela política era a única viável naquele momento, Lula vai corrigi-la num segundo mandato?", questionou o secretário de Economia Solidária.

Singer disse ainda que, em 2004, houve "uma política econômica ultraneoliberal de elevar as taxas de juros e fixar metas de inflação muito baixas". No seu diagnóstico, essa opção "custou muito caro", com recessão e desemprego. O economista afirmou, no entanto, que suas emendas não tiveram o intuito de criar polêmica no encontro do PT. "Apenas quis preservar a possibilidade de debater isso mais adiante."

Para Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais de Lula, não houve mudança substancial no documento petista. As emendas ainda não foram divulgadas porque terão de passar por "ajustes".

"São ajustes de forma, de linguagem. A diferença fundamental dessas diretrizes para aquelas que foram aprovadas pelo PT em 2001 (A Ruptura Necessária) é que, na eleição anterior, estávamos na oposição e, agora, somos governo", comentou Garcia, que também é vice-presidente do PT.