Título: Garotinho anuncia greve de fome
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2006, Nacional, p. A8

Um dos candidatos a disputar a Presidência pelo PMDB, Anthony Garotinho anunciou ontem que fará greve de fome por tempo indeterminado como "último recurso em defesa da verdade". Na entrevista que convocou, ele disse, em discurso dramático, que o "sacrifício" só vai terminar quando for "instituída supervisão internacional no processo eleitoral, assegurando a igualdade de tratamento a todos os candidatos, com acompanhamento de instituições nacionais que tradicionalmente defendem a democracia".

Ao lado da mulher, a governadora Rosinha Matheus, que estava bastante abatida, Garotinho declarou que outra condição para o fim da greve é a mudança de atitude da mídia. "Que os veículos de comunicação que nos caluniam cedam o mesmo espaço para que a população possa conhecer a verdade dos fatos", discursou. Ele citou como caluniadores a "grande mídia, liderada pelas Organizações Globo e pela revista Veja - com o indisfarçável patrocínio do governo Lula".

CAMPANHA

A greve é uma resposta às denúncias veiculadas no fim de semana, de que o governo do Rio teria contratado organizações não-governamentais (ONGs) suspeitas de ligação com supostos empresários que fizeram doações para a pré-campanha de Garotinho. O ex-governador leu o pronunciamento "à Nação" e não quis responder a perguntas de jornalistas. "Desde o dia em que meu nome começou a se tornar uma opção de milhões de brasileiros contra o modelo neoliberal que vem destruindo a nação brasileira", começou, como preâmbulo para várias referências à "campanha mentirosa e sórdida" que considera estar sofrendo.

Após o discurso, ele se deixou fotografar na sala em que estará por tempo indeterminado, ao lado da mulher e da filha Clarissa Matheus. O recinto, da presidência regional do PMDB, no centro do Rio, tem 15 metros quadrados, ocupados por uma poltrona, um sofá-cama, TV, computador e um frigobar que, ontem, tinha apenas água.

Os assessores de Garotinho não sabiam informar que médico o acompanhará enquanto durar a greve. Ontem, em princípio, um primo dele é que cumpriria essa função. A família deve se revezar no acompanhamento do ex-governador.

ONGS

Ao mesmo tempo, o chefe de gabinete de Rosinha, Fernando Peregrino, ao lado dos secretários estaduais de Saúde, Gilson Cantarino, e Trabalho, Marco Antônio Lucidi, deu nova entrevista para tentar explicar a contratação das ONGs pelo governo do Rio. Peregrino voltou a classificar o noticiário sobre os contratos milionários dessas ONGs com a Fundação Estadual de Serviço Público (Fesp) como "deturpador".

O chefe de gabinete, que vê perseguição a Garotinho nas denúncias, afirmou que é "legal, legítima, transparente e ética" a contratação de ONGs como as três que têm dirigentes em comum com as empresas que teriam contribuído com os R$ 650 mil arrecadados para a pré-campanha de Garotinho e depois devolvidos por ele.