Título: Governo federal é feito de amadores, diz tucano
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Sergio Gobetti, p. A15

Em Goiás, Alckmin critica "aparelhamento do Estado" e falta de rigor na política fiscal

O ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, afirmou ontem que o governo Lula é formado por amadores e paga um custo fiscal alto por ter mudado de discurso. "Tom Jobim dizia que o Brasil não é um país para amadores", disse Alckmin, durante um evento de agribusiness no interior de Goiás. O tucano foi recebido aos gritos de "presidente" e deu palestra sobre a conjuntura econômica nacional.

Alckmin criticou a má qualidade do gasto público, a elevada taxa de juros e a valorização do real em relação ao dólar. Ao explicar mais tarde sua citação aos "amadores", disse que não se referia ao presidente Lula em particular. "É uma referência ao aparelhamento de Estado, e não à pessoa do presidente. Governo é gente, é preciso ter equipe, gente preparada, para governar", argumento.

Aproveitando a platéia de produtores rurais, queixosa dos efeitos da taxa de câmbio sobre as exportações, o pré-candidato do PSDB atacou duramente a política econômica. "Estamos sofrendo o resultado de uma política econômica equivocada, que começa pela taxa de câmbio fora de equilíbrio e por uma política fiscal péssima", disse. "O Brasil deve voltar a ser uma terra de oportunidades para quem quer trabalhar e produzir, e não uma terra de rentistas, de quem vive de juros."

Na avaliação do tucano, a alta taxa de juros reflete tanto a falta de rigor da política fiscal quanto o que chama de "custo PT" - o preço que o governo Lula teria pago para convencer os investidores de que não vacilaria no combate à inflação. "Hoje você paga o custo PT. Como você falou 25 anos uma coisa e depois fez outra, tem um custo para ter credibilidade. Então as doses precisam ser mais altas para ter resultados melhores."

O ex-governador explicou que a sobrevalorização do real decorre da elevada taxa de juros e chegou a sugerir uma maior intervenção do governo sobre o câmbio. "O governo não poderia deixar ter chegado aonde chegou. Em todo lugar em que o câmbio é flutuante, ele é administrado, você limita a flutuação", afirmou.

Alckmin também criticou a elevação da carga tributária, que no ano passado ultrapassou os 38% do PIB, e disse que buscou reduzir impostos enquanto esteve no governo de São Paulo. "O brasileiro trabalha de janeiro a um pedaço de maio para pagar imposto ao governo", disse, acrescentando que o governo também gasta muito e mal. "Não sobra dinheiro para investimento público, nem dinheiro para tapar buraco."

Em Goiás, Alckmin comeu churrasco e visitou a feira de agronegócios de Rio Verde, cercado de fazendeiros e políticos locais, além do governador Alcides Rodrigues.

Para mostrar familiaridade com o campo, disse que foi criado até os 16 anos na zona rural, sem conhecer a cidade, e fez vários comentários sobre gado. "A maior vantagem do gado Jersey é que, se ele pisar no pé do dono, dói menos, dizia meu pai", contou o ex-governador, entre risos.

Ao falar das alianças para a campanha presidencial, Alckmin disse que já tem um acordo com o PFL e é preciso respeitar a decisão do PMDB de ter candidatura própria. "Defendo a idéia de que a gente amplie as alianças para ganhar a eleição e governar o País", acrescentou.