Título: Lula cita Febem para alfinetar Alckmin
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Nacional, p. A10

Sem nominar o adversário tucano, presidente argumenta que infratores são resultado do descaso do Estado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com jeito e pose de candidato que afirma não ser, declarou ontem que tranqüilidade é sua receita para enfrentar "adversários truculentos", atribuiu a seu governo um Brasil forte e embalado por 176 mil novos empregos que diz ter criado em fevereiro e pelo recorde de US$ 11,3 bilhões de exportação, reclamou dos "pessimistas de plantão", condenou planos econômicos "fantásticos" e, por fim, fustigou a valer o ponto fraco - a Febem e prisões tomadas por amotinados - de seu oponente maior, Geraldo Alckmin (PSDB), que almeja sua cadeira no Palácio do Planalto.

Pegou o caminho para bater em Alckmin, de quem não citou o nome, quando narrou a visita que fez à fábrica da Ford em Camaçari (BA), na quarta-feira, e testemunhou jovens trabalhando. "Quando a gente vê um menino daquele preparado para o mercado de trabalho, com emprego garantido, a gente fica imaginando que haverá um dia nesse país em que nós teremos menos Febem e mais indústria, menos Febem e mais escolas", disse o presidente, em Campinas, onde anunciou edital de licitação para empresas interessadas em explorar o pólo industrial do Aeroporto Internacional de Viracopos e prometeu a construção de uma segunda pista - mas a obra só deverá ter início entre 2007 e 2008.

O presidente acusou: "O resultado dessas crianças e adolescentes, que muitas vezes nós vemos na televisão e ficamos horrorizados com as cenas, essa meninada é o resultado do descaso." Ele sugeriu que os tijolos usados para erguer unidades para menores infratores e presídios devem ser usados para construir escolas e criar empregos e que os governantes admitam isso "na sua consciência e na sua alma".

"Temos que fazer essa opção para saber que país nós teremos daqui a 15 ou 20 anos", disse Lula. "Não canso de dizer que no Brasil temos os pessimistas de plantão, aqueles que levantam de manhã sem querer enxergar a realidade e dão palpites e mais palpites que viram manchetes de coisas que na verdade não estão acontecendo, coisas que eles gostariam que acontecessem. No Brasil tem gente que não se contenta em ver alguém fazer mais do que eles, que não se contenta que as coisas dêem certo."

No palanque com Lula estavam o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), a quem o presidente chamou de "extraordinário economista", o ministro Marcio Fortes (Cidades), 4 prefeitos, 3 deputados, a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, sucessora de Jorge Mattoso - acusado de abrir os dados bancários do caseiro Francenildo dos Santos Costa -, e a presidente da Finlândia, Tarja Halonen. Algumas centenas de pessoas, que não mais serão desalojadas de suas casas ao redor do aeroporto, foram aplaudir o presidente e algumas pediram sua reeleição ao ritmo de "um, dois, três, Lula outra vez".

Lula disse que "a chave para você vencer adversários truculentos é ter tranqüilidade". "Quem sabe o ano que vem, sendo presidente ou não, a gente volte aqui para visitar esse bairro (em torno do aeroporto) com luz, água encanada, saneamento básico, muita gente com casa nova."

Garantiu, como sempre tem feito em outros eventos, que nada o fará adotar medidas que possam afetar a estabilidade da economia. "Quero dizer aos empresários, aos trabalhadores e aos jornalistas que nada, nada me fará por causa de um ano eleitoral tomar uma decisão que possa colocar em risco tudo o que plantamos até agora."

Incluiu a era Fernando Henrique Cardoso, que o antecedeu, ao apontar outra vez as críticas a seus opositores. "Virou moda as pessoas dizerem que São Paulo cresce mais que o Brasil, que o Rio cresce mais... É engraçado, parece coincidência, mas esses Estados só estão crescendo mais do que o Brasil (...) quando o Brasil começou a crescer no nosso governo. Peguem o que aconteceu nos 10 anos anteriores, estudem o que aconteceu de 2002 a 1994, não esperem que eu diga, peguem e vocês vão perceber que todos os Estados começaram a crescer mais exatamente porque o Brasil começou a crescer mais."

Fez ainda uma comparação, e usou como referência um sólido e notório reduto tucano. "Em alguns Estados industrializados, como São Paulo, proporcionalmente se o Brasil cai, ele cai. Se o Brasil cresce, ele cresce. A pergunta que eu faço: por que não cresceu antes de nós governarmos o País?"