Título: CUT defende e Força ataca Lula
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2006, Nacional, p. A12

Transformado no dia mais importante do ano para os cantores populares - que faturam alto nos showmícios -, e amaciado por um bom aumento do salário mínimo, de R$ 300 para R$ 350, este 1º de Maio vai repetir o ritual dos anteriores: uma grande multidão pró-governo na Avenida Paulista, outra das oposições na zona norte, muita cantoria durante a tarde inteira e os habituais sorteios de carros e apartamentos para gente que, sem tais truques, não iria de jeito nenhum.

Como pano de fundo de tanta festa, uma taxa de desemprego de 16% que passa dos 20% entre os jovens. Avançando um pouco mais, uma reforma trabalhista e outra sindical empacadas há anos nas gavetas do governo e do Congresso, em Brasília.

Na Paulista, a Central Única dos Trabalhadores, aliada da administração Lula, investiu R$ 2,5 milhões para uma programação que deve reunir, a partir das 11h30 de hoje, 1 milhão de trabalhadores.

Ao mesmo tempo, a oito quilômetros dali - na Praça Campo de Bagatelle, junto ao metrô Santana -, a Força Sindical aplicou R$ 2 milhões numa festa ainda maior, a qual devem comparecer 1,5 milhão de pessoas. Antes delas, uma dissidência da CUT, a Conlutas, reunirá militantes da esquerda e da Pastoral Operária. Depois de uma missa na Catedral da Sé, às 10 horas, os manifestantes sairão em passeata pelas ruas centrais da capital.

A despolitização, marca dos encontros anteriores, não mudou. Os sindicatos brasileiros "trocaram as bandeiras trabalhistas pelas partidárias", define o deputado Walter Barelli (PSDB-SP), que foi ministro do Trabalho do governo Itamar Franco. Crítico dos megashows, organizados para atrair gente que não quer saber de política, Barelli entende que os movimentos sindicais "foram enfeitiçados" durante a campanha eleitoral de 2002 pelo então candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, "e até hoje não acordaram".

CAMPANHA

Ainda assim, o calor da campanha eleitoral já se faz presente. A festa da Paulista será "pelo desenvolvimento e contra o retrocesso tucano", anuncia o presidente da CUT estadual, Edilson de Paula Oliveira. O presidente nacional da CUT, João Antonio Felício, ao falar do 1º de Maio condenou, no site da central, "a orquestração da direita, que tenta tornar o País ingovernável".

No mesmo tom, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, avisa que na comemoração "trabalhadores e empresários estarão juntos contra o governo, que é o grande explorador de todos, com os altos impostos e altas taxas de juros". As circunstâncias, diz Paulinho, "nos obrigam, muitas vezes, a nos associar na luta comum. É por isso que vamos ter todo o empresariado no nosso palanque no Campo de Bagatelle. Porque estamos sendo todos espoliados pelo Estado."

Do megashow da Força participarão outras 120 entidades. Entre as lideranças presentes estarão Guilherme Afif Rodrigues, presidente da Associação Comercial de São Paulo, o presidente da Ciesp, Cláudio Vaz, dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), associações de médicos, engenheiros e até dois possíveis candidatos à Presidência da República, o deputado Roberto Freire (pelo PPS) e o senador Cristovam Buarque (pelo PDT).

NOVO GRUPO

Para a Conlutas, uma dissidência da CUT, a passeata pelo centro é um ensaio para os três dias do Congresso Nacional de Trabalhadores, a se realizar em Sumaré, no interior paulista, nos dias 5, 6 e 7 deste mês. "A CUT e a UNE (União Nacional dos Estudantes) não podem mais falar em nome dos trabalhadores nem da juventude, pois são parceiras deste governo federal" e representam "uma trava" contra a luta sindical, diz um dos documentos do grupo, que tem simpatizantes do PSTU, do PSOL, da esquerda da CUT e de setores da esquerda católica.

"Mas não somos ligados a partido nenhum", avisa um dos coordenadores do movimento, José Maria de Almeida, líder do PSTU. "Tanto que, no regimento que vamos aprovar, haverá dois artigos a respeito. Um proíbe a Conlutas de receber recursos do Estado. Outro impede seus dirigentes de aceitar empregos públicos."

Ele espera a presença, no encontro, de 230 sindicatos, cerca de 90 oposições sindicais e uns 70 movimentos populares, que juntos representam cerca de 2,5 milhões de trabalhadores.