Título: Relatório paralelo do PT foi tiro no pé, diz Delcídio
Autor: Eugênia Lopes, Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Nacional, p. A8

Para presidente da CPI, partido perdeu oportunidade de desmembrar temas que de fato lhe interessavam

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), acusou ontem o seu próprio partido de ter cometido um erro estratégico e de ter "dado um tiro no pé" ao apresentar um relatório paralelo ao texto oficial do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), aprovado anteontem pela CPI. O senador petista ponderou que, se tivesse posto em votação os 37 votos em separado apresentados à Mesa, o primeiro a ser apreciado seria o do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que propunha o indiciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Imagine, fazer uma votação dessas logo depois de termos tido 17 votos favoráveis ao relatório de Serraglio... O resultado era óbvio e dispensa qualquer explicação adicional", afirmou Delcídio, com convicção. "Ao tentar retaliar o relatório do Serraglio, eles trouxeram outras questões para a CPI. Foi um tiro no pé não só do partido, mas também de outras pessoas", completou. Em sua avaliação, o PT errou ao propor o relatório paralelo, em vez de focar nos pontos em que o partido tinha interesse em mudar.

Ao lado de Serraglio e do vice-presidente da CPI, deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), Delcídio fez questão de ressaltar que nunca foi pressionado pelo governo. Observou, no entanto, que a posição do Palácio do Planalto era diferente da defendida pelo seu partido.

"Havia nitidamente uma posição divergente: o governo numa linha e o PT noutra", disse. "O governo nunca interferiu na minha investigação", reforçou Serraglio.

Delcídio defendeu o seu comportamento na votação do relatório final da CPI. Com mão de ferro, não deu a palavra a ninguém nem permitiu a votação dos destaques e emendas ao relatório de Serraglio. Por isso, o PT está pedindo a anulação da última sessão da CPI. "Não fui eleito presidente da CPI para defender o PT", afirmou.

Delcídio explicou ontem que as regras para votação do relatório final da CPI estavam definidas desde quinta-feira da semana passada, com o acerto de que não seriam votados destaques e emendas. "Se eu mudasse as regras do jogo, a sessão ficaria inadministrável, pelos embates que iriam ocorrer", admitiu. Ele e Serraglio estão convictos de que o PT queria finalizar a CPI dos Correios sem a aprovação do relatório.

"Queriam que a CPI terminasse melancolicamente. Mas o Congresso ficaria desmoralizado se não tivesse relatório", frisou Delcídio.

Na entrevista, Serraglio contou que o ministro Waldir Pires, que até a semana passada era Controlador-Geral da União e hoje comanda a pasta da Defesa, foi o único que o procurou durante os trabalhos da CPI dos Correios. Pires o alertou sobre um relatório da CGU que livrava o ex-ministro Luiz Gushiken de envolvimento em irregularidades nos contratos de publicidade dos Correios. "O ministro foi muito ético", afirmou Serraglio.