Título: Relator vê ' frouxidão moral' no País, inerte à corrupção
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Nacional, p. A6

Após entregar carta de renúncia ao Conselho de Ética, deputado prevê que não haverá novas cassações

O deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), relator do pedido de cassação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), rejeitado na noite de quarta-feira pelo plenário, afirmou que há uma "frouxidão moral" no País, que não reage aos atos de corrupção. Ele viajou ontem para uma missão oficial da Câmara, mas antes passou pela Casa para assinar o seu pedido de desligamento do Conselho de Ética, onde ocupa uma vaga de suplente. Para ele, não haverá mais cassações. "Se os cachorros grandes foram liberados, por que condenar os pequenos?", questionou.

Por que o senhor decidiu deixar o conselho?

Primeiro, em protesto. Acho que a decisão de ontem (quarta à noite) do plenário foi emblemática, porque o deputado João Paulo Cunha, por ter sido presidente da Casa, deveria ser um paradigma da honestidade, da honorabilidade, da dignidade. E também pelos fatos a ele atribuídos que estão comprovados. Ele sacou R$ 50 mil da empresa SMPB, de Marcos Valério, mentiu reiteradas vezes ao longo do processo, negando informações relevantes, e também fez um contrato da Câmara com a SMPB, empresa que lhe deu dinheiro. O contrato foi lesivo aos interesses da Casa e aos interesses públicos. Tão comprovado estava e nada aconteceu. Eu não creio que os próximos julgamentos serão diferentes daqueles que foram até agora.

Por que o plenário absolveu o deputado João Paulo?

Acho que há um comprometimento recíproco. Esse acordo entre o PT, o PP, o PL e mensaleiros de diferentes partidos. Enfim, interesses escusos, subterrâneos, não visíveis e, sobretudo, porque há uma frouxidão moral no País.

Como assim?

Há uma visão permissiva de condutas. O presidente da República não viu, não sabe, não tomou conhecimento. Os ministros da Fazenda e da Justiça, envolvidos em ações incompatíveis com o decoro e com a decência, dois ex-presidentes da Câmara, sete presidentes de partido, seis líderes de bancada (citados em denúncias), e nada acontece, nada muda. Estão aí como se fossem os senhores da verdade e da dignidade. Então, tem de confiar na população, no povo, no início de uma restauração moral do País. Como está, não dá. A corrupção é um câncer. Se não enfrentarmos isso, este país tem o seu futuro comprometido.

Como serão os processos daqui para a frente?

Não sei, não acredito mais em nada.

Não haverá mais condenação?

Acho que não. Até porque não é justo. Se os cachorros grandes foram liberados, por que condenar os pequenos?

O Conselho de Ética perdeu a razão de existir?

Não, mas o trabalho que ele faz não é reconhecido.

Como o senhor se sente com o resultado de ontem?

Uma sensação de frustração, de tristeza, de impotência e de desalento.