Título: Bastos recua e se oferece para depor no Congresso sobre quebra de sigilo
Autor: João Domingos, Rosa Costa, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2006, Nacional, p. A4

Ministro pretende responsabilizar Palocci e negar que tenha participado da violação da conta do caseiro

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ofereceu-se ontem para ir ao Congresso falar sobre o episódio da violação da conta bancária do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo. Bastos pretende dizer que não participou da quebra ilegal de sigilo e deve responsabilizar o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci pela irregularidade.

A argumentação de Bastos no Congresso será baseada nas investigações realizadas pela Polícia Federal, que apontam Palocci como o mandante da violação, executada na Caixa Econômica Federal. O ministro da Justiça vai dizer que a PF agiu rápido e em menos de uma semana desvendou "toda a cadeia de comando" da quebra de sigilo do caseiro.

Vai afirmar ainda que dois de seus principais auxiliares - o chefe de gabinete, Cláudio Alencar, e o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg - não testemunharam nenhuma irregularidade. Os dois subordinados de Bastos já prestaram depoimento à PF e contaram a mesma história.

Na noite do dia 16, quando Bastos não estava em Brasília, foram chamados por Palocci para uma reunião na residência oficial do Ministério da Fazenda. Palocci disse que estava sendo vítima de tentativa de desmoralização e pediu ajuda, com o argumento de que o caseiro teria recebido suborno para denunciá-lo. O então ministro os consultou sobre a possibilidade de pôr a PF e a Secretaria de Direito Econômico para vasculhar a vida de Nildo. Ambos teriam se recusado a participar da ofensiva contra o caseiro.

Em entrevista ao Estado e depois na CPI, Nildo desmentira Palocci ao afirmar que o ministro freqüentava a mansão alugada em Brasília pelos lobistas da chamada república de Ribeirão Preto. De acordo com Nildo, a casa servia para a partilha de dinheiro e a realização de festas com garotas de programa.

Parte do governo era contra a ida de Bastos ao Congresso por avaliar que o ministro deveria deixar o caso esfriar. Bastos, porém, rejeitou a idéia. "Eu vou. É a minha reputação que está em jogo", argumentou.

Em ofício encaminhado aos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), o ministro disse que comparecerá a qualquer uma das Casas do Legislativo, na data que os parlamentares escolherem. Além de enviar o ofício a Renan e Aldo, Bastos telefonou para ambos e reiterou a intenção de falar no Congresso. Ficou combinado, então, que o ministro falará numa sessão conjunta.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, esteve ontem no Congresso, onde se reuniu com Aldo. Foi enfático na defesa de Bastos, dizendo não haver indício de seu envolvimento na quebra do sigilo bancário do caseiro: "Pelo contrário. Tudo indica que ele agiu imediatamente, mandou apurar logo."

No início da semana, o próprio Bastos recusava a hipótese de se explicar no Congresso. "Eu não tenho nenhum motivo para ser ouvido", disse na segunda-feira no Rio, ao ser indagado sobre a possibilidade de depor. "Não se aponta nenhum ato. O que existe é que nós estamos investigando, os fatos estão praticamente esclarecidos, e vão ser esclarecidos."

A mesma trajetória Bastos já tinha seguido em relação ao próprio Palocci. No dia 17 de março, havia descartado a hipótese de abrir inquérito contra o ex-ministro, que considerava "merecedor de toda a confiança do presidente e da sociedade". Onze dias depois, o discurso era outro: "Ele merece meu apreço pessoal, mas precisa ser investigado e será."

No Congresso, a oposição considera necessária a ida de Bastos para prestar esclarecimentos. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que o ministro precisa comparecer imediatamente: "Ele próprio tem de dar explicações."

O líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), afirmou que em nenhuma hipótese acredita que os dois auxiliares de Bastos tenham ido à casa de Palocci sem que o ministro da Justiça soubesse. Já o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), declarou que a reunião de Alencar e Goldberg com Palocci ainda não foi esclarecida.