Título: Defesa pede habeas-corpus e ataca a Globo
Autor: Rita Magalhães
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Metrópole, p. C3

Oliveira apresentará hoje pedido de libertação de Suzane; ele contestou edição de entrevista

O advogado Mário Sérgio de Oliveira, que representa Suzane von Richthofen no processo criminal, disse que entrará hoje com um pedido de habeas-corpus no Tribunal de Justiça (TJ) para tentar libertar a cliente. Segundo ele, os requisitos exigidos pelo Código Penal para que se decrete a prisão de alguém não foram preenchidos no caso de Suzane. "Como disse o próprio Roberto Tardelli, em entrevista ontem, ela não ameaçou testemunhas", afirmou, em referência ao irmão de Suzane, Andreas, seu rival na disputa pela herança da família.

A Justiça decretou a prisão por entender que a conduta de Suzane - pedir para administrar os bens dos pais, em documento que ataca o irmão duramente, como revelou o Estado - representa "verdadeiro risco para a testemunha (Andreas)".

Oliveira também rejeitou o argumento de que Suzane estaria prestes a fugir. "Ela deu entrevistas, se apresentou à polícia", afirmou. Segundo ele, quando a a reportagem da TV Record a mostrou de férias em Ubatuba, em fevereiro, deixou claro que ela não era reconhecida pelas pessoas - logo, seria muito mais fácil fugir naquele momento, e não depois de aparecer na revista Veja e no Fantástico. "Além do mais, ela fugiria para onde? Ela não tem dinheiro."

POLÊMICA

O advogado disse que a reportagem do Fantástico, da Rede Globo, exibida no domingo, não traduziu a realidade. Ele foi mostrado pela TV orientando Suzane a chorar e dizer "não quero falar mais", na casa da advogada e amiga de Suzane Luzia Sanches, em Itirapina (SP). "Aquilo foi editado. Pareceu um monólogo, mas era um diálogo."

Segundo ele, havia um acordo com a emissora para que Suzane não falasse do assassinato dos pais. Em determinado momento da entrevista, afirmou, a equipe de reportagem estava com a jovem dentro da casa e ele permaneceu no portão. A equipe teria tentado falar sobre o crime. "A Suzane, então, saiu de lá, veio até mim e disse: 'Não quero falar dos fatos.' Ela estava nervosa, a ponto de chorar. Então, eu disse: 'Então, volte lá e diga que não quer falar'." O choro, explicou, não era para ser levado ao ar, mas apenas para mostrar à repórter que ela não queria falar.

Ainda segundo Oliveira, a emissora não poderia ter divulgado a conversa por respeito ao sigilo profissional entre advogado e cliente. "Pedi à OAB-SP (seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil) que solicite à Globo, por via judicial, as fitas brutas da entrevista. Tenho certeza de que as fitas vão mostrar que minha conduta foi correta."

Ontem, Oliveira e Denivaldo Barni, advogado e protetor de Suzane, pediram desligamento do Tribunal de Ética da OAB-SP, que abriu sindicância para investigá-los. Barni disse aos policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) que foi enganado pela equipe do Fantástico. "Nunca imaginei que isso (a prisão) pudesse acontecer. Tanto que evitamos que ela falasse sobre o crime para não acontecer o mesmo que aconteceu com os irmãos Cravinhos (presos novamente depois de uma entrevista). Queríamos mostrar para a população que a Suzane não é esse monstro, essa pessoa fria que todos imaginam. Que ela é humana, que gosta de criação (de passarinhos)."