Título: 'Tenho medo de morrer', diz Suzane
Autor: Rita Magalhães
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Metrópole, p. C3

Acusada do assassinato dos pais foi transferida para Penitenciária Sant'Ana, na zona norte, onde ficará isolada

Na primeira noite depois de ter sido novamente detida, anteontem, Suzane von Richthofen, de 22 anos, encarnou o papel de menina frágil. Recusou o jantar e passou a madrugada quase em claro no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no centro. A ré confessa do assassinato dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, disse a delegados que estava apavorada com a possibilidade de ir para um presídio comum. "Tenho medo de morrer. Quase morri numa rebelião na Penitenciária Feminina (da Capital, PFC). Por isso meu advogado está entrando com habeas-corpus", disse, com voz chorosa. Apesar desse temor, Suzane foi transferida no fim da tarde ontem para a Penitenciária Feminina Sant'Ana, zona norte.

Em agosto de 2004, Suzane teve de ser retirada à pressas da PFC, durante uma rebelião. As presas achavam que ela tinha uma série de regalias e ameaçavam matá-la. Foi então conduzida ao Centro de Ressocialização de Rio Claro, onde permaneceu até ser libertada, em 29 de junho.

Era para Rio Claro que Suzane deveria retornar ontem, após negociação entre o DHPP, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) e o protetor da jovem, Denivaldo Barni. A vaga estava garantida informalmente desde o meio-dia. Mas, às 18 horas, o delegado Armando de Oliveira Costa Filho divulgou que a jovem seguiria para a Penitenciária Feminina Sant'Ana, por "decisão administrativa" da SAP.

Suzane ficará isolada das demais presas por até 30 dias, em regime de observação. Hoje, há 1.295 detentas na penitenciária. A transferência ocorreu por volta das 18h25 e parou a Rua Brigadeiro Tobias, onde fica o DHPP. A polícia teve de fazer um cordão de isolamento e proteger Suzane no trajeto entre o prédio e o carro de polícia que a conduziu ao presídio. Sob gritos de "assassina, assassina", ela enfrentou a multidão de cabeça baixa. Estava algemada e vestia blusão azul com capuz.

No DHPP, Suzane disse aos policiais que jamais imaginou que a entrevista concedida ao Fantástico, da TV Globo, exibida no domingo, a levaria de volta à prisão. "Eu dei a entrevista instruída pelos advogados. A idéia era mostrar o meu lado humano." A informação foi confirmada por Barni, que protege Suzane desde o assassinato de Marísia e Manfred, em outubro de 2002 - a jovem confessou ter aberto a porta da casa da família para o então namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Christian, que mataram o casal com golpes de barra de ferro.

Barni chegou cedo ao DHPP. Levou bolachas doces para Suzane, água e bebida láctea. A jovem passou a noite no sofá da sala do plantão. Deu apenas breves cochilos e choramingava toda vez que um policial se aproximava. O delegado Sérgio Paulo Rios de Abreu a descreveu como um "farrapo humano".

A avaliação do médico legista Luiz Fernando Zantut, que fez o exame de corpo de delito cautelar na jovem no DHPP, foi diferente. Segundo ele, Suzane estava "emocionalmente muito bem". Zantut disse que ela não chorou em nenhum momento do exame e "esboçou alguns sorrisos até". O comportamento da acusada, afirmou o legista, foi "similar ao que se mostrou na reportagem da Rede Globo" - a jovem olhou para ele, mas de cabeça baixa e com a franja cobrindo os olhos. Suzane não fez perguntas, só respondeu.