Título: Exploração controlada de floresta rende US$ 2,6 bilhões
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Economia & Negócios, p. B22

Empresa com certificado ambiental vende produto até pelo dobro do preço no exterior

Certificação florestal: mecanismo que, por meio de padrões técnicos, atesta que a empresa explora a floresta de modo responsável, sem exaurir os recursos naturais. Vale também para florestas plantadas (pinus e eucalipto). Neste caso, garante que as áreas plantadas seguem padrões ambientais e que a empresa respeita normas trabalhistas.

Selo verde FSC: a organização FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal), que fornece padrões para a certificação, criou o selo FSC, para os produtos de origem florestal. Ele atesta que a empresa passou pelas etapas do processo de certificação.

Quem se certifica: madeireiras, indústrias de móveis, de papel e celulose e fabricantes de produtos cuja matéria-prima venha da floresta, como cosméticos.A devastação sem controle da floresta ainda é regra no Brasil, mas começam a surgir - e prosperar - algumas práticas diferentes. Um número cada vez maior de empresas está adotando técnicas de controle ambiental para manejar a floresta. Elas ganham um selo de aprovação pelo organismo internacional Conselho de Manejo Florestal (FSC, na sigla em inglês) e conseguem cobrar entre 30% e 100% a mais pelo seu produto no exterior.

Hoje, as empresas que trabalham com madeira certificada e que receberam o selo verde já movimentam US$ 2,6 bilhões por ano. A conta inclui desde madeireiras, indústrias de papel e celulose e construção civil a produtores de óleos, essências e castanhas .

Um encontro em São Paulo na semana que vem deve mostrar a força das empresas que adotaram essas práticas. A Feira Brasil Certificado deve reunir 50 expositores, 15 a mais que o primeiro evento, realizado em 2004. Essas empresas têm uma história em comum: adotaram o selo verde não só para proteger sua imagem, mas por perceberem uma boa oportunidade de negócios, num momento em que consumidores dos países ricos dão cada vez mais preferência a quem respeita o meio ambiente.

Um bom exemplo é o do Grupo Orsa, fabricante de papel e celulose. Em 2003, a empresa criou a divisão Orsa Florestal, com certificação do FSC. Centrada em três pilares de negócios - madeireiros, não-madeireiros e agroflorestal -, a empresa detém a maior área privada de floresta certificada dos trópicos. São 545 mil hectares, no Pará, de onde saem mil m3 por mês de madeira serrada - 90% por cento exportada para Holanda, Bélgica, Alemanha e países escandinavos.

A Holanda, que recebe 60% das exportações, é um dos melhores mercados para produtos de madeira certificada. De acordo com Roberto Waack, presidente da Orsa Florestal, os holandeses chegam a pagar o dobro pela madeira certificada. "Esse prêmio no preço é o que viabiliza os negócios com produtos certificados", diz Waack. As vantagens se estendem para obter financiamentos bancários. "Para os bancos, uma empresa com certificação significa redução do risco do empreendimento e comprometimento a longo prazo", afirma.

No mercado brasileiro, ainda são raros os casos de empresas que conseguem chamar a atenção do consumidor por terem o selo verde. Mas já começam a aparecer alguns exemplos. A rede de lojas Leo Madeiras criou uma divisão "verde", a EcoLeo, que só vende madeiras certificadas. Numa loja de 800 m2, a empresa negocia madeiras nobres brasileiras, como cedro rosa, muiracatiara, cumaru e timborana, todas com selo verde. "No ano passado, tivemos um aumento de 100% nas vendas em relação a 2004", diz Karla Aharonian, gerente da revenda. Os compradores são profissionais especializados, como designers, marceneiros e arquitetos, mas a pressão do consumidor já faz diferença. "Muitos profissionais só vieram a conhecer a madeira certificada porque o consumidor pediu", diz Karla, que acredita no crescimento do mercado.

"Hoje temos mais fornecedores e até pequenas empresas se certificando".

É o caso do Studio Vero, especializado na produção de brindes corporativos e artigos de design. A empresa, que produz em escala industrial - de 25 mil a 50 mil peças por mês - nasceu há 8 anos com o conceito do ecodesign, de olho no cliente corporativo disposto a pagar mais por brindes com um apelo de responsabilidade social. O selo FSC, obtido há dois anos, ajudou a conquistar clientes como Banco do Brasil, Natura, Klabin e Arcelor.

A certificação florestal, aliada a investimentos em design, trouxe visibilidade para a empresa - que tem 100 funcionários e faturamento mensal da ordem de R$ 1 milhão - e estofo para competir com os brindes chineses. "Tivemos um aumento na clientela de 30% após a certificação" diz Silvia Rocha, sócia do Studio Vero.