Título: Começa a safra de cana e preço do álcool cai 12%
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2006, Economia & Negócios, p. B4

O início da safra de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do País reduziu em 12% o preço do álcool hidratado em abril, nas maiores usinas do País, mas, para especialistas, a queda ainda demora um pouco para chegar ao consumidor e não será nessa proporção.

Dados divulgados pelo Cepea sexta-feira mostram que pela primeira vez neste ano, na semana de 24 a 28 de abril, o preço do álcool hidratado ficou abaixo de R$ 1. O litro, de R$ 1,04284 caiu para R$ 0,90585, livre de impostos, queda de 13%. O álcool anidro teve queda, de R$ 1,18432 para R$ 1,04117 o litro.

Segundo a pesquisadora Miriam Bacchi, do Cepea, a queda de 12% não chegará ao consumidor porque "outros custos do processo não variam como o preço da matéria prima". Ela cita, como exemplo, os custos de mão-de-obra e energia.

E a redução só chegará aos consumidores quando as distribuidoras não tiverem mais os estoques formados com preços mais altos, que não foram consumidos por causa da redução no consumo - quando os preços subiram, os donos de carros flex passaram a optar pela gasolina.

Para a pesquisadora, a queda de preços é bem vinda, mas deve haver controle. "Preços mais baixos aumentam o consumo e podem causar problemas semelhantes ao que tivemos no ano passado, quando os preços caíram muito na safra - abaixo de R$ 0,50 - e subiram demais na entressafra."

Mas Miriam afirma que a queda de 12% do hidratado e de 0,5% do anidro no mês e as variações negativas das últimas semanas não indicam uma repetição do ano passado.

"O certo seria uma estabilidade de preços", afirma Miriam. Para isso ocorrer, porém, o governo precisaria dar crédito a juros abaixo do mercado para as usinas formarem estoques. "As usinas precisam se capitalizar para a compra de insumos, pagamento de mão-de-obra e precisam ofertar o produto."

Para os usineiros, é possível haver uma estabilidade de preços, por causa da pressão da crise do petróleo, do aumento das exportações com a futura abertura dos Estados Unidos e do alto preço do açúcar no mercado internacional.

"Acredito que o álcool ainda vai ter uma redução maior de preços, mas não será como foi nos anos anteriores. Essa pressão fará com que os preços não recuem tanto", diz Fernando Perri, da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), para quem o preço do álcool deverá ficar na média de R$ 1,25 nas bombas em 2006.

A situação, porém, diz Perri, não tão confortável para as usinas. O perfil da safra, tida como mais alcooleira do que açucareira, deve se inverter por causa dos altos preços atingidos pelo açúcar no mercado internacional. Isso pode causar desabastecimento de álcool no mercado interno. "Não há mecanismos de incentivo à produção de álcool", lembra Perri, apontando que grandes companhias, como Cosan e Copersucar, estão aumentando os investimentos para ampliar os estoques e a produção de açúcar.

Na opinião de Perri, a estabilização de preços na safra não impede a necessidade de governo intervir novamente na entressafra: "Enquanto não houver um planejamento estratégico do setor com relação ao papel a ser desempenhado por usineiros, distribuidores e governo, a situação na entressafra será a mesma."