Título: Funcionários fazem vigília em Brasília
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Enquanto isso, seus representantes vão em romaria pelos gabinetes

Os funcionários da Varig estão fazendo uma vigília em Brasília numa tentativa de salvamento da empresa aérea. Cerca de 300 empregados desembarcaram ontem na capital dispostos a abrir mão até de salários e de suas aposentadorias para salvar a Varig.

O grupo protocolou no Palácio do Planalto uma proposta de sacar entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões que teriam de patrimônio no fundo de pensão Aerus para sanear a companhia, recuperando de início 21 aeronaves paradas por falta de manutenção. Hoje, eles tentarão ser recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A assessoria da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), do Ministério da Previdência informou no início da noite que "conceitualmente" os recursos das entidades fechadas de previdência são dos participantes e não podem ser usados em outra finalidade que não seja o pagamento de benefícios.

"Se a empresa quebrar, nós não teremos nem presente nem futuro. Não teremos nem emprego hoje nem aposentadoria", disse o coordenador do TGV, Márcio Marsillac, que levou a sugestão ao Planalto. Porém, a idéia não tem consenso entre os representantes dos trabalhadores. "Se os funcionários vão aplicar na Varig por meio do fundo, vamos voltar à situação de empregados dirigindo a empresa. Isso já não deu certo com a Fundação Rubem Berta. A Varig precisa de gestão profissional", disse a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio.

A sindicalista defendeu a concessão, pelas estatais credoras da Varig, de três meses para que a empresa volte a pagar suas dívidas. "Isso daria um fôlego para a empresa se recuperar", afirmou, ao deixar o Ministério do Trabalho, onde ela e outros sindicalistas se reuniram com o secretário de Relações do Trabalho, Mário Barbosa.

Durante todo o dia de ontem, funcionários da Varig fizeram uma romaria por gabinetes de Brasília para aumentar a pressão sobre o governo. Além da reunião no Ministério do Trabalho, eles estiveram no Congresso, na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Infraero, e tentaram, sem sucesso, ser recebidos pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. No Planalto, foram acompanhados por deputados da Frente Parlamentar de Defesa da Varig.

No início da noite, eles se reuniram com o ministro da Defesa, Waldir Pires, num encontro que teve a participação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Nessa reunião, eles conseguiram a promessa dos ministros de tentar obter para eles uma audiência com o presidente Lula. Para isso, no entanto, terão de fechar ainda hoje uma proposta unificada de recuperação da empresa.

Está em discussão, além do uso dos recursos do fundo Aerus, a proposta da consultoria Alvarez & Marsal - contratada pela direção da Varig - de demissão de 2,9 mil funcionários, carência de três a sete meses nos pagamentos das dívidas da empresa e a redução de até 30% dos salários dos empregados que permanecerem.