Título: 'Credor estrangeiro tem mais boa vontade'
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Bottini, presidente da Varig, diz que empresa não quer dinheiro público, mas a ajuda do governo nas negociações

O presidente da Varig, Marcelo Bottini, disse ontem que as empresas estrangeiras estão tendo mais boa vontade com a companhia aérea do que o governo brasileiro. Em entrevista após reunião no fundo Aerus, Bottini afirmou que a empresa não está pedindo dinheiro público, mas precisa de um aceno das autoridades de que a Varig é importante para o País e que o governo influencie positivamente nas negociações com os credores.

"Os arrendadores de aviões têm feito a parte deles. Isso é o que chama a nossa atenção", comentou Bottini, citando que a economia mensal com aluguel de aviões tem sido de US$ 30 milhões a US$ 40 milhões. Na prática, essa economia decorre do não pagamento de algumas parcelas, embora os credores estrangeiros aguardem os demais aceitarem os termos das negociação - que prevê suspensão temporária e retomada de pagamento nos meses seguintes de gastos correntes - para então aderirem à proposta.

Indagado se esses credores estão tendo mais boa vontade que o governo, respondeu: "É fato. Eles têm se mostrado muito abertos às negociações". O executivo também confirmou que 15 jatos fora de operação serão devolvidos, o que representará economia adicional. A reunião de ontem do Aerus ratificou a substituição de Odilon Junqueira pelo ex-procurador da Fazenda Nacional Ricardo Lodi, na presidência da entidade.

A proposta da Varig depende de todos os credores e inclui adiamento de pagamento de credores estatais, fundo de pensão e outros credores privados, além de medidas como o enxugamento da Varig. "As empresas estrangeiras têm feito a parte deles, que é deixar de cobrar os leasings", disse Bottini. Há ainda negociações de venda com a VarigLog e tentativas de entendimento para uma eventual participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social em uma solução.

"Se você tem um aceno que a Varig é importante para o Brasil, todo mundo se coloca em linha", afirmou. A questão é definir se a Varig "tem valor". "Se tem valor, vamos ver como viabilizamos isso. Se não tem, ótimo. Vamos tratar o assunto de forma diferente, nos esforçar ao máximo", acrescentou, dizendo que, se algo acontecer no futuro, o governo foi avisado.

Segundo o executivo, não há proposta para o governo, mas para os credores. Citou a tentativa de retomar o crédito de 60 dias junto à BR, que não aceita a proposta e exige garantias. Nos anos 70, disse, a Varig foi procurada pelo ex-ministro Shigeaki Ueki no período de criação da BR. "Para fazer crescer uma empresa brasileira, a Varig transferiu seu abastecimento para a BR. Em nome do Brasil."

MÁ GESTÃO Bottini reconhece as críticas de que a Varig foi mal gerida no passado, mas diz que o momento é outro. "Atenção, a Varig de ontem não é a Varig de hoje. A Varig de hoje está num plano de recuperação, o credor aprovou, o credor comanda a Varig, escolheu a Alvarez&Marsal", disse, sobre a contratação da consultoria americana, que já recuperou empresas aéreas dos EUA.

O executivo conta que a empresa já fez 700 demissões e eliminou diretorias no exterior. Há um mês, registrou uma nova malha aérea no DAC e as mudanças de rota, como suspensão de vôos para Caxias do Sul e Passo Fundo já estavam previstas.