Título: Atenção ao aviso: apertem os cintos
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Há uma única razão pela qual o governo devesse injetar dinheiro público na Varig: a de salvá-la da falência. No entanto, existem pelo menos outras sete razões a sugerir que esta é uma péssima idéia. Confira:

(1) Já há dinheiro público demais dentro da Varig. Somente as dívidas com a Receita Federal, com o INSS, com a Infraero e com a Petrobrás Distribuidora estão próximas dos R$ 5 bilhões. A Varig reclama cerca de R$ 2,5 bilhões em créditos reconhecidos pelos tribunais. Mas seu rombo total, hoje perto de R$ 8 bilhões, indica que seu patrimônio líquido é negativo.

(2) E as outras? Repassar recursos oficiais para a Varig é precedente para que o governo dê o mesmo tratamento para a Vasp e para a Transbrasil, que também estão em situação falimentar. E por que salvar a Varig e deixar que naufraguem tantas e tantas empresas que vão mal das pernas pelo Brasil?

(3) Lei atropelada. No ano passado, a Varig recorreu à nova Lei de Recuperação Judicial (Lei de Falências). Uma vez congelado o passivo então contabilizado, exige-se que a empresa pague as despesas operacionais subseqüentes. Sem isso, não há possibilidade de recuperação. Mas apareceram novos rombos. Injetar dinheiro público nas veias da Varig implicaria desmoralizar a nova lei.

(4) Saco sem fundo. Não há nenhuma garantia de que eventuais novos recursos repassados à Varig voltarão aos cofres públicos. Ao contrário, se houvesse alguma possibilidade de recuperação, algum interessado já teria comparecido para assumir o controle. Os que se apresentaram querem apenas o filé: concessões, slots (locais nos aeroportos) e lista de passageiros. Nenhum deles assumiria as dívidas com o setor público, com o fundo de pensão, com os funcionários, com os fornecedores.

(5) Sem solução. Desde 2001, este é o melhor momento da aviação civil. O mercado brasileiro cresce a 20% ao ano. Apesar das melhores condições para recuperação do seu fluxo de caixa, a Varig não pára de afundar.

(6) Sem desemprego. Não é verdade que a quebra da Varig provocaria desemprego. Suas linhas seriam absorvidas por outras empresas. Como o mercado cresce a 20% ao ano, mais cedo ou mais tarde, a maioria dos seus funcionários seria recontratada.

(7) Sem bandeira. Não faz sentido dizer que a Varig tem de ser socorrida a todo custo "porque é a bandeira brasileira nos céus do mundo". A PanAmerican também era a american flag e ninguém usou esse argumento para salvá-la. A Swissair era mais suíça do que o relógio cuco e o famoso canivete vermelho, mas terminou como todos sabem. E a Panair do Brasil já foi mais brasileira do que a Varig...