Título: Varig pressiona, mas Lula veta salvamento com dinheiro público
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

Funcionários fretaram avião e fizeram manifestação em Brasília, mas ainda não há sinal de solução à vista

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em conversa informal com jornalistas durante cerimônia no Itamaraty, que não cabe ao governo financiar companhias de capital privado como a Varig. "Não é papel de governo salvar empresa privada da falência. O governo está preocupado e quer ajudar a Varig a arrumar uma solução, mas não acho que temos que pôr mais dinheiro público na empresa", afirmou o presidente, que deu a entender que a companhia aérea poderia ser mais eficiente.

"Eu ouço falar da crise da Varig há muito tempo e, cada vez que me falam disso, o buraco é sempre maior, está sempre devendo 1 bilhão a mais." A Varig deve atualmente R$ 7 bilhões. "A TAM e a Gol estão ganhando muito dinheiro. Não entendo como a Varig tem prejuízo operacional voando", comentou Lula.

Apesar das mobilizações dos funcionários e das pressões por uma ajuda financeira à Varig, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, também descartou a possibilidade do uso de dinheiro público numa operação de socorro à empresa. "Serei sempre favorável a qualquer solução para a Varig, desde que não implique gasto de dinheiro público", avisou ontem a ministra, endossando posição já manifestada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Dilma foi encarregada pelo presidente Lula de conduzir o assunto no âmbito do governo.

Já o ministro da Defesa, Waldir Pires, que recebeu no início da noite uma delegação de funcionários da Varig, acha que é preciso resolver rapidamente o problema. "Precisamos de uma solução rápida, ainda esta semana, porque a deterioração (da empresa) é muito grande e a cada dia as coisas pioram mais." Indagado se a solução poderia passar por injeção de recursos públicos na Varig, Waldir Pires disse que, se a operação for legal, a resposta, no que depender dele, seria sim. "Trabalhei a vida inteira para isso."

Ao ser questionado se os credores estatais aceitariam a moratória pedida pela empresa, Waldir Pires disse: "Precisamos abrir uma caminho porque a empresa tem uma importância enorme para o País".

Apesar da posição no governo quanto à ajuda à Varig, Waldir Pires disse que "ficaria muito contente se isso acontecesse". Já a ministra Dilma comentou que "não há solução fácil" para a crise da empresa, que está com dívidas que passam de R$ 7 bilhões e cobranças judiciais. "Estamos avaliando os dados em relação à empresa. Como não se trata de uma estatal, o governo depende desse acesso aos dados", disse Dilma. A expectativa do governo, segundo a ministra, é de concluir nesta semana uma avaliação sobre o caso.

A pressão por uma ajuda do governo à empresa aérea vem de todos os lados. O vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), disse ontem que, "desta vez", a proposta da empresa é "viável", e "não incluiu o uso de dinheiro público". "A Varig só precisa de dois meses de carência da BR Distribuidora (responsável pelo abastecimento dos aviões) e cinco meses da Infraero (empresa que administra os aeroportos)", declarou o deputado, ao acompanhar uma delegação de funcionários da empresa ao Palácio do Planalto.