Título: País deve contemplar a energia nuclear
Autor: Luiz Gonzaga Bertelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Economia & Negócios, p. B2

À véspera do carnaval, o governo revelou que o País crescera apenas 2,3% em 2005, o que corresponde ao crescimento médio anual de 2,6%. É muito pouco. Enquanto isso, a China vem crescendo mais de 10% todos os anos, ao lado da Índia (9%) e da Rússia (7%). Tão só o Haiti, Guiana e Jamaica cresceram menos que os brasileiros.

Evidentemente, a fim de voltar a crescer os indispensáveis 6% ou 7% anuais, o Brasil necessitará de consertos em várias áreas. Entre elas, preponderantemente, a energética. Precisamos assegurar o suprimento de eletricidade, competitividade, com a evolução econômica e social da Nação.

Os últimos indicadores brasileiros de consumo e capacidade instalada de geração elétrica ainda são medíocres e inferiores à média universal e correspondem, por exemplo, à metade dos portugueses. Daí a imprescindibilidade de aproveitar todos os recursos disponíveis para aumentar a capacidade de geração de eletricidade, a fim de exorcizar, definitivamente, o fantasma de um novo e possível apagão nos próximos anos.

Em decorrência, a hidreletricidade (85% de eletricidade do País) deverá ser complementada pelas fontes térmicas: urânio, carvão, bagaço de cana, gás natural e derivados do petróleo. A construção de hidrelétricas sofre discriminação de ecologistas e há imensas restrições para a obtenção das licenças ambientais. Transitamos, dessa forma, nos próximos anos, de uma situação quase inteiramente hídrica para uma condição predominantemente térmica.

Permanece a ser convenientemente aproveitado o fantástico potencial de geração hidrelétrica (260 GW), o que poderá ser desenvolvido, em consonância com as nossas condições socioambientais e econômicas.

Nos últimos levantamentos, foi constatado que 85% desse mencionado potencial hídrico está nas Regiões Norte e Centro-Oeste, a grandes distâncias, portanto, dos centros consumidores do Sudeste, e a exigir custosas linhas de transmissão.

Recentemente, a Fiesp procedeu à rigorosa análise de todas as alternativas térmicas e ficou evidenciado o potencial da energia nuclear e do bagaço da cana, em razão das disponibilidades desses combustíveis.

Foi descartada a possível contribuição do petróleo e do gás natural, em face da limitada disponibilidade desses energéticos fósseis, seja pela sua conveniência do real uso e aplicações mais nobres, na indústria petroquímica ou transporte. A Petrobrás admitiu, recentemente, que terá de rever a sua meta de consumo de gás natural no País, por conta de um crescimento de demanda maior do que o esperado.

Ficou evidenciado que as termoelétricas, que queimam combustíveis fósseis, lançam mais carbono (CO2) na atmosfera do que as hidrelétricas. Um recente comunicado das Nações Unidas sustenta que os gases (CO2, metano e óxido nitroso) alcançaram níveis recordes em 2005.

Na recente exposição da Eletronuclear, na entidade das indústrias paulistas, os problemas relacionados à energia nuclear estariam sendo solucionados.

Temores relacionados às eventuais explosões e vazamentos do material radioativo não se justificariam mais, eis que as tecnologias modernas seriam capazes de garantir a segurança total do sistema. No tocante à retenção e destinação dos rejeitos gerados pelas usinas nucleares, a tecnologia já permite que sejam adequadamente armazenados em repositórios seguros e isolados do meio ambiente.

O preço do energético também compensaria os investimentos. Já compete o quilowatt-hora de energia nuclear naturalmente com eletricidade, produzida de outras fontes, como o óleo combustível e o diesel, que provocam o efeito estufa.

É relevante assinalarmos que o Brasil tem uma das maiores reservas mundiais de combustível nuclear (urânio). A necessidade do aproveitamento racional de energia nuclear surge de forma incontestável e deverá ser levada em conta nas futuras decisões e dos planos estratégicos da matriz energética brasileira.

É o caso da conclusão das obras de Angra 3 (que exigirão recursos da ordem de US$ 7 bilhões) e o equacionamento de futuras usinas nucleoelétricas, requerendo um período mínimo de construção de 6 a 7 anos.

Com a maior dependência do petróleo, cada vez mais caro e escasso, a experiência da França em energia nuclear (78% da eletricidade consumida na Nação) está atraindo a atenção de todo o mundo.

A elaboração de um consistente plano decenal e da nova matriz energética brasileira deverá ensejar a ampla discussão com todos os agentes e interlocutores da sociedade brasileira, do sistema elétrico e de organismos da área ambiental.