Título: Humala 'rasgará' tratado com EUA
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Internacional, p. A22

García e Lourdes, que disputam vaga no segundo turno, mostram menos resistência ao acordo de livre comércio

Enquanto o país permanecia mergulhado na incerteza sobre os resultados da eleição presidencial de domingo, o presidente peruano, Alejandro Toledo, chegava ontem a Washington, onde deve firmar hoje um tratado de livre comércio com os EUA. O acordo passa a vigorar depois de aprovado pelo Legislativo dos dois países e deve converter-se num tema importante durante a campanha do segundo turno. Com a presença garantida na segunda votação, o nacionalista Ollanta Humala promete rasgar o convênio, caso ele passe no Congresso peruano. "Espero que os congressistas em fim de mandato se abstenham de votar esse tratado", disse Humala na segunda-feira à noite. "Se não, tomaremos as medidas que devemos tomar." Humala considera os termos do atual acordo lesivos para os produtores peruanos, que não teriam como competir com produtos americanos, que inundariam o mercado interno sem barreiras alfandegárias.

Entre os dois candidatos que disputam voto a voto o direito de concorrer ao segundo turno com Humala - o ex-presidente Alan García e a conservadora Lourdes Flores -, o tratado encontra menos resistência. García defende a revisão de alguns pontos do acordo e Lourdes considera o convênio aceitável.

"Em tempo de eleição, todos falam muito, mas ninguém disse como substituir um mercado como o dos EUA, que compra automaticamente 30% de nossas exportações", disse ontem o ministro de Comércio Exterior do Peru, Alfredo Ferrero. "O Brasil, por exemplo, que é um mercado imenso, só compra 3% de nossos produtos."

No âmbito eleitoral, a ligeira vantagem aberta por García sobre Lourdes ontem à noite ainda era insuficiente para lhe garantir a vaga no segundo turno, já adiado de 7 de maio para princípios de junho. Apurados 86,64% dos votos, Humala se mantinha na liderança, com 30,88%, seguido de García (24,56%) e Lourdes (23,44%). A campanha de García apostava na ampliação da vantagem, com a lenta chegada das atas das regiões mais remotas, onde seu partido, Apra, é o único organizado. Já a esperança dos assessores de Lourdes de obter o segundo lugar com a chegada dos votos no exterior se reduzia com a confirmação de que só metade dos eleitores com direito a voto nos consulados foi às urnas. A campanha da conservadora denunciou a não contabilização de 1,4 milhão de votos a seu favor, que conteriam irregularidades. As autoridades prometeram revisar essas cédulas.