Título: Capturado o 'capo di tutti i capi'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Internacional, p. A21

Bernardo Provenzano, chefe da Máfia siciliana, era caçado havia 40 anos

Bernardo Provenzano foi por quatro décadas o criminoso mais procurado da Itália. O capo di tutti i capi (chefe de todos os chefes da máfia) foi capturado ontem numa casa de campo de Corleone, 50 quilômetros ao sul de Palermo, a capital da Sicília, informou o ministro do Interior italiano, Giusepe Pisanu. "Ele vestia uma jaqueta de lã e calças jeans e não ofereceu a menor resistência", acrescentou.

A notícia foi recebida pelos italianos com um misto de incredulidade e alegria. Dom Bernardo, de 73 anos, como era chamado pelos mafiosos, conseguiu burlar os policiais e investigadores todos esses anos por causa de uma obsessão: jamais mostrar o rosto ou falar com estranhos (ler ao lado). "Poucas pessoas o viram ou ouviram voz dele", disse um investigador que pediu anonimato. "Ele manipulava nas sombras os comandos de uma das organizações criminosas mais poderosas da Europa."

A história da Cosa Nostra nas últimas décadas é a própria história de Provenzano. Procurado por assassinatos e roubos desde 1963, ele passou a ser o chefe de todos os chefes do crime organizado na Sicília em 1993, quando sucedeu o então poderoso chefão Salvatore "Totó" Riina, capturado pelo esquadrão anti-Máfia do governo.

Ao assumir a direção do crime organizado, ele passou a mudar com freqüência de domicílio e contava com a ajuda de camponeses sicilianos. Esse apoio logístico era mais intenso em Corleone, cidade siciliana apontada como reduto dos mais famosos clãs mafiosos de toda a Sicília. A mulher e os dois filhos do mafioso também vivem naquela cidade.

"Sem Provenzano, a Cosa Nostra está praticamente decapitada", exultou Pisanu, o ministro do Interior.

Provenzano foi levado para o quartel dos carabineiros em Palermo. Ali, uma grande multidão aguardava a chegada do chefão, curiosa para ver o rosto dele. Quando ele chegou num veículo escoltado por um grande contingente policial, foi recebido com insultos: "Bastardo", "assassino", "maldito".

A polícia teve grande dificuldade para dispersar os manifestantes e curiosos.

Provanzano foi condenado à revelia a seis penas de prisão perpétua. Entre outros crimes hediondos, ele é acusado de envolvimento no assassinato dos juízes anti-Máfia Giovanni Falconi e Paolo Borselino na década de 90. Em março, um ex-advogado de chefes mafiosos assegurou que Provenzano morrera há alguns anos. "Caso contrário, como se explica que nenhum policial pôs a mão nele em todas estas décadas?", acrescentou. Segundo o juiz anti-Máfia nacional, Pietro Grasso, a prisão de Provenzano põe fim à lenda de que a Cosa Nostra é invencível e mostra o rosto vulnerável da máfia siciliana.

O juiz Grasso não acredita que Provenzano vá colaborar com a Justiça.