Título: Prodi se recusa a formar coalizão com Berlusconi
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Internacional, p. A19

Centro-esquerdista não aceita frente ampla como a alemã e, no campo externo, confirma: retirará tropas do Iraque

O modelo alemão da grande coalizão entre democrata-cristãos e social-democratas foi proposto ontem pelo líder conservador Silvio Berlusconi como a solução para o que ele definiu como impasse político italiano. O impasse apontado por Berlusconi seria conseqüência da apertadíssima vitória da coalizão de centro-esquerda de Romano Prodi na Câmara e no Senado nas eleições de domingo e segunda-feira.

Prodi rechaçou prontamente a idéia. E mais: em entrevista à rádio France-Info, confirmou que retirará as tropas italianas do Iraque. "No dia em que o governo começar a trabalhar, (formalizaremos) a decisão de retirar tropas do Iraque", disse ele. "É claro que não será em um dia, mas com a cautela necessária." A Itália tem 3 mil soldados na coalizão liderada pelos EUA no Iraque.

O resultado das eleições mostrou um país dividido entre as duas principais correntes políticas - a coalizão conservadora Casa da Liberdade (CDL) e a centro-esquerdista União. Uma grande coalizão seria, no entender de Berlusconi, a melhor saída - com os partidos pondo os interesses do país acima dos interesses pessoais e de poder. "Essa é uma posição de toda pessoa de bom-senso e dos homens com responsabilidade política", argumentou ele.

Berlusconi fez a proposta durante entrevista que concedeu no Palazzo Chigi, sede do governo. Prodi deixou claro que pretende governar unicamente com as forças que o apoiaram. "Nós já formamos uma coalizão para disputar a eleição e é com ela que vamos formar o governo", declarou.

Prodi lembrou que o futuro presidente, a ser eleito pelo novo Parlamento que toma posse em junho, é que deverá encarregar a União, coalizão vitoriosa, de formar o governo italiano. O atual presidente, Carlo Azeglio Ciampi, de 86 anos, hesita em aceitar um novo mandato.

Até lá, Berlusconi permanecerá à frente do governo. Ontem, mesmo propondo a chamada grande coalizão, ele deixou claro que só vai reconhecer a vitória do adversário Prodi depois de uma recontagem dos votos. Berlusconi justificou a posição afirmando que a Casa da Liberdade perdeu por uma diferença ínfima de 23 mil votos.

Berlusconi afirmou que não contesta uma eventual vitória da oposição, mas ressaltou que diante desses números é obrigação verificá-los. O primeiro-ministro acrescentou que, confirmada a vitória da União, vai telefonar para Prodi não só para dar-lhe os parabéns como para convidá-lo a debater as grandes questões do país.

Berlusconi pôs em dúvida a lisura do processo de votação dos italianos no exterior. Disse dispor de informações sobre a ocorrência de numerosas irregularidades.