Título: Irã já está no clube nuclear
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Internacional, p. A18

Presidente anuncia início do enriquecimento de urânio para gerar energia, apesar da pressão da ONU para não ir adiante

O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, anunciou ontem que seu país enriqueceu urânio com sucesso pela primeira vez num nível adequado para produção de energia elétrica. O enriquecimento, por enquanto, é incipiente, mas em seu pronunciamento na TV Ahmadinejad destacou que o Irã está determinado a produzir em escala industrial. A notícia contribuiu para aumentar os temores de instabilidade na região e, por isso, elevou os preços no mercado de petróleo em Londres, que alcançaram US$ 70 o barril, um recorde nessa praça. "Estou oficialmente anunciando que o Irã se uniu ao grupo daqueles países que possuem tecnologia nuclear", disse o presidente.

A notícia é um novo desafio ao Conselho de Segurança (CS) da ONU, órgão com o poder de impor sanções e que atualmente analisa o programa nuclear iraniano. EUA, França e Grã-Bretanha - todos membros do Conselho - acreditam que o objetivo do Irã é produz armas atômicas e não apenas gerar energia elétrica, como alegam seus líderes. Por isso, exigem que o país interrompa o enriquecimento de urânio. No entanto, dentro do Conselho, sofrem a resistência de China e Rússia, que têm fortes relações comerciais com o Irã. A China reiterou ontem que a crise tem de ser resolvida pelo diálogo e alertou que sanções militares ou econômicas seriam contraproducentes.

Segundo as autoridades do setor nuclear iraniano, por enquanto estão em operação 164 centrífugas, que enriquecem urânio a um nível de 3,5% (ver explicação ao lado). A fabricação de armas atômicas exigiria um nível de cerca de 90% de purificação.

Duas semanas atrás diplomatas em Viena disseram, extra-oficialmente, que o Irã já havia iniciado o processo, superando, portanto, a fase de pesquisas que já era do conhecimento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU que fiscaliza a proliferação nuclear. O anúncio oficial, apenas alguns dias antes da chegada a Teerã do diretor da AIEA, Mohamed Baradei, para conversações com dirigentes, indica que o Irã quer apresentar a ele um fato consumado num momento em que é pressionado para interromper o enriquecimento.

No dia 29, o CS aprovou um comunicado que pedia ao Irã a suspensão desse processo. Não é uma determinação de cumprimento obrigatório nem há, no texto, a ameaça de sanções porque o Conselho está dividido.

Por outro lado, esta semana a imprensa americana publicou que o governo de George W. Bush já estuda um plano de ataque às instalações iranianas. Ontem, Bush negou, mas já tinha dito que todas as "opções estão sobre a mesa".