Título: Crise do caseiro desgasta Lula e favorece Alckmin, indica pesquisa
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Economia & Negócios, p. A12

Na CNT/Sensus, ele mantém dianteira, com 37,5%, mas caiu 4,7 pontos; tucano tem 20,6% - cresceu 3,2 pontos

A violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, afetou a preferência popular pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontou pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem. Na simulação de primeiro turno, Lula caiu 4,7 pontos porcentuais desde fevereiro, mas se manteve à frente - 37,5% a 20,6% - do pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), que cresceu 3,2 pontos no período. Na simulação de segundo turno, a diferença a favor de Lula, que era de 21,6 pontos em fevereiro, agora é de apenas 11,8 pontos.

A queda de Lula ficou concentrada na faixa dos que têm curso superior, disse Ricardo Guedes, diretor do Sensus. A melhora nos índices de Alckmin deve ajudar a debelar um princípio de incêndio entre seus aliados, assustados com a queda dos seus índices em pesquisa Datafolha divulgada esta semana. Os números dos dois institutos são praticamente os mesmos em fevereiro e abril, mas o Datafolha captou pequeno crescimento de Alckmin em março, sob impacto do lançamento da candidatura, disse Guedes, detectando também a queda agora.

Para Guedes, a pesquisa consolidou a polarização entre Lula e Alckmin e descarta a candidatura do ex-governador Anthony Garotinho, cuja rejeição diminuiu 9 pontos porcentuais, mas ainda é altíssima (50%). Lula e Alckmin têm uma vantagem: na pesquisa, os dois têm mais eleitores homens do que mulheres - o que é positivo, segundo Guedes, porque a opção masculina influencia a opção feminina na reta final da eleição.

Alckmin, porém, ainda enfrenta um claro problema de desconhecimento, admite Guedes. "Ele ainda não é um candidato nacionalizado", diz. O ex-governador continua pouco conhecido nas regiões Nordeste e Norte/Centro-Oeste; no País, 13,7% (18,9% em fevereiro) afirmam não conhecê-lo, quase três vezes o índice de Garotinho. Mas o pequeno avanço desde fevereiro já o ajudou a derrubar sua rejeição, de 39,9% (em fevereiro) para 33,5%, abaixo da rejeição de Lula (35,7%).

A liderança que Lula ostenta na pesquisa continuou se nutrindo da enxurrada de votos que ele arrebanha do Nordeste (55%), de onde Alckmin se limita a 8,7%, atrás do ex-governador Anthony Garotinho (14,9%). No Norte/Centro-Oeste a preferência por Lula cai um pouco (35,6%), mas Alckmin (20,8%), embora melhor, ainda fica atrás de Garotinho (21,5%). Ele só disputa para valer no Sudeste (29,5% a 27,1% para Lula) e no Sul (29,1% a 24% para Lula), em situação de empate técnico em ambas.

Cenário semelhante foi constatado nas faixas de escolaridade: Lula vence disparado (43,5%) entre os que têm até a 4ª série do ensino fundamental, onde Alckmin é terceiro (14%), perdendo para Garotinho (14,8%). Embora subindo na pesquisa, Alckmin ainda não atinge em nenhuma região ou nenhuma faixa de renda ou escolaridade os porcentuais que o ex-prefeito José Serra ostentava, quando seu nome era incluído nas pesquisas presidenciais.

SEGUNDO TURNO

Nas simulações de segundo turno, porém, Lula perdeu quase 10 pontos porcentuais desde fevereiro na disputa com Alckmin. Tinha 51,3% e agora tem 45%; Alckmin tinha 29,7% e agora ostenta 33,2%. Lula também perdeu 5,7 pontos na disputa contra Garotinho: venceria por 54,1% a 24,1% em fevereiro e, agora, por 48,5% a 24,2%.

Nas citações espontâneas, Lula perdeu 3,6 pontos desde fevereiro - tinha 30% e agora tem 26,4%. Já Alckmin avançou bastante, em razão da exposição de mídia que passou a ter depois do lançamento de sua pré-candidatura. Tinha apenas 3,8% e agora chegou a 9%. Apenas 2,8% citaram Garotinho.

Na pesquisa anterior, que ainda contava com todos os possíveis candidatos do PSDB - como José Serra e Aécio Neves -, Lula passou a bater todos os seus adversários em todas as faixas de renda e escolaridade. Na pesquisa de agora, ele perdeu a dianteira entre os que têm ensino superior, fatia na qual Alckmin o bate facilmente por 35,6% a 23,4%; e também entre os que ganham entre 5 e 10 salários mínimos. Nessa faixa, o ex-governador crava 34,9% a 26,4%.