Título: "Eu não ia sujar minha biografia", diz Souza
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Nacional, p. A4

"Não vou sujar a minha biografia", comentou muitas vezes o procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, durante a investigação sobre o mensalão. Ontem, depois de encerrar sua missão mais difícil e oferecer denúncia contra "organização criminosa" do PT, ele repetiu a assessores: "Eu não falei que não ia sujar a minha biografia?"

Biografia inaugurada em 1975, quando ingressou no Ministério Público Federal e especializou-se em direito constitucional e eleitoral. Cearense de Fortaleza, 57 anos de idade, criado no interior do Paraná, ele é reservado.

Sua rotina de trabalho começa às 9 da manhã e não raro avança até a noite, especialmente quando participa das sessões no Tribunal Superior Eleitoral. O chefe do MPF é também o procurador-geral eleitoral.

Antes de ir para a Procuradoria, Souza caminha por cerca de 50 minutos no bairro onde mora. Casado, dois filhos, alimentação à base de frutas, verduras e legumes, o procurador mantém um exemplar da Constituição sobre a mesa de trabalho e a Bíblia aberta sobre uma cômoda de seu gabinete.

Assumiu o posto em 2005, nomeado por Lula. Cabe ao chefe do MPF propor ações contra parlamentares, ministros e o presidente. Quando estourou o escândalo que jogou quadros importantes do PT na vala comum da corrupção, Souza ouviu Marcos Valério em sua sala. Negou que tivesse sofrido pressões. "Eu decido, não admito interferência."