Título: Correndo atrás do bonde
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2006, Notas e Informações, p. A3

O Brasil avançou apenas uma posição - do 24º para o 23º posto - na classificação dos exportadores de bens, no ano passado, embora tenha faturado com as vendas ao exterior 23% a mais do que em 2004. Intrigante à primeira vista, esse dado sugere alguma reflexão sobre como o País vem ocupando espaços no mercado global. Uma análise dos números, mesmo superficial, confirma que mais uma vez o Brasil se atrasou, historicamente, quando outras economias em desenvolvimento se voltaram para fora e adotaram, há cerca de 20 anos, um novo paradigma de modernização e crescimento.

Poucos países puderam exibir, em 2005, melhor desempenho como exportador que o do Brasil. Vários desses países, como a Rússia e a Arábia Saudita, foram beneficiados pelo aumento dos preços do petróleo. A receita comercial russa cresceu 34% no período e a saudita, 42%.

Dos países com exportação diversificada, a evolução mais notável foi a da China, com ganho de 28% no ano passado. Com esse resultado, o país permaneceu em 3º lugar na classificação, abaixo da Alemanha, a número um, e dos Estados Unidos. De modo geral, as posições dos 25 primeiros classificados pouco mudaram, segundo os números divulgados na segunda-feira pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Brasil começou há pouco tempo a reduzir a distância entre suas exportações e as dos países mais atuantes no comércio internacional. Tradicionalmente fechada, a economia brasileira desenvolveu-se, durante décadas, por meio da substituição de importações. Seu dinamismo dependia quase exclusivamente do mercado interno. O comércio exterior tinha função apenas complementar.

Durante os anos 80 e a maior parte dos 90, a exportação brasileira avançou muito lentamente. Entre 1995 e 2000, a receita comercial do Brasil aumentou apenas 18,5%, enquanto o valor da exportação mundial cresceu 24,8%. O País continuava a marchar com o passo errado.

O quadro começou a mudar depois da reforma cambial de 1999. O Brasil havia acumulado ganhos de produtividade importantes durante a década, mas não os havia canalizado para o comércio exterior. O salto viria nos anos seguintes. Entre 2000 e 2005, a receita comercial brasileira aumentou 114,7%, enquanto o valor da exportação mundial avançou 61,3%.

Mas o atraso em relação às economias mais empenhadas no comércio era muito grande. Além disso, havia aumentado com a estagnação de duas décadas. Em 1984, o Brasil detinha 1,5% do valor da exportação mundial. Durante a maior parte dos anos 90, sua participação ficou na vizinhança de 0,9%. Só em 2004 a fatia brasileira voltou à faixa de 1% e no ano passado chegou perto de 1,2%, segundo a OMC.

Economias bem menores que a brasileira haviam conquistado, nos últimos 10 ou 15 anos, posições melhores no comércio internacional. Tailândia e Irlanda são exemplos expressivos. O México, graças principalmente à integração com os Estados Unidos, havia aumentado notavelmente seu comércio exterior. No ano passado, sua exportação rendeu US$ 213,7 bilhões. Apesar do acesso ao maior mercado consumidor do mundo, o México não deixou de buscar acordos com outros parceiros.

O Brasil não tem acordo comercial com nenhum dos principais mercados. O governo atual fez o possível para impedir a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Enquanto adotava essa política, proclamada orgulhosamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outros latino-americanos negociaram pactos comerciais com os Estados Unidos. O acordo entre Mercosul e União Européia também não foi concretizado até agora, em parte por falta de entendimento entre o Brasil e a Argentina, os sócios maiores do bloco sul-americano. O Mercosul tem um acordo limitado com o México - importante, apesar disso. Além disso, a integração sul-americana tem produzido algum resultado comercial, que o Itamaraty vem alardeando como grande feito. Seria melhor que o governo se preocupasse um pouco mais com as oportunidades perdidas nos maiores mercados, o americano e o europeu, onde vários concorrentes, a começar pela China, vêm tomando espaço do Brasil.