Título: Petróleo já passa dos US$ 70 e FMI alerta para risco de alta da inflação
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2006, Economia & Negócios, p. B7

Apesar disso, o Fundo pede aos importadores que não tentem conter a disparada dos preços com subsídios

Um mundo globalizado com a inflação sob controle, mas com muitos desequilíbrios e enfrentando a perigosa ameaça do petróleo caro (o barril já passou dos US$ 70 em Londres), que aumenta a vulnerabilidade dos países a crises financeiras. Esse é o retrato traçado pelo Fundo Monetário Internacional no (FMI) no estudo semestral "Perspectivas Econômicas Mundiais", publicado parcialmente ontem.

Segundo o documento, "a inflação nas economias avançadas e em muitas dos mercados emergentes ficou notavelmente moderada nos últimos dois anos". Esse movimento ocorreu "apesar de significativos aumentos nos preços das matérias-primas", assim como um forte crescimento econômico com baixas taxas de juros.

Segundo o economista-chefe do FMI, Raghuram Rajan, com a abertura comercial, os supermercados puderam se abastecer com produtos importados, sem ter de aumentar os preços.

Mas o documento ressalta que "a globalização não é garantia de que haverá inflação baixa nos próximos um ou dois anos".

O FMI também advertiu que os altos preços do petróleo estão aprofundando os desequilíbrios financeiros mundiais, pois elevam o déficit comercial dos EUA. Segundo o Fundo, a falta de ajuste dos desequilíbrios mundiais de conta corrente preocupa. "Os desequilíbrios estão aumentando, em vez de diminuir", lamentou Rajan.

O buraco nas contas externas dos EUA, que o torna dependente de injeções de capital estrangeiro, "aumenta o risco de um ajuste com queda do dólar, que dispararia as taxas de juros nacionais e poderia causar uma recessão", afirmou o FMI.

Descartada uma queda do preço do petróleo, que reduziria os desequilíbrios na conta corrente, o FMI pede ações a governos do mundo todo. Ele recomenda aos exportadores de petróleo que aumentem a despesa em educação e infra-estrutura.

Além disso, o FMI sugeriu aos importadores de petróleo que não tentem conter a alta do petróleo com subsídios ou outras medidas e permitam que se traduza em preços mais altos nos postos de gasolina, de modo que constitua um incentivo para um menor consumo de energia.

O Fundo também pede às autoridades monetárias que aumentem os juros assim que a alta do preço do petróleo for transmitida a outros produtos.

O FMI também previu o aumento dos investimentos privados no mundo todo, considerando a pouca capacidade ociosa de produção, e recomendou que os mercados emergentes melhorem o clima de negócios para atrair esse capital.

O crescimento econômico dos últimos anos reduziu a capacidade ociosa das fábricas nos países ricos, por isso o FMI prevê que aumentará o investimento em indústrias e equipamento. "As oportunidades de investimento parecem melhores agora do que antes, não só nos mercados industrializados, mas também nos mercados emergentes", afirmou o subdiretor do Departamento de Análise do FMI, David Robinson.