Título: TV digital: Japão não garante fábrica
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Mas, segundo Costa, Toshiba já estuda projeto de semicondutores

As emissoras de TV venceram a guerra da TV digital. Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assinou em Tóquio, com o chanceler japonês Taro Aso, um memorando de entendimento para instalação no Brasil de um sistema de TV digital baseado no padrão japonês ISDB. Agora, só falta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ratificar a escolha. O que deve acontecer em breve, já que ele dificilmente iria contrariar os radiodifusores em ano eleitoral. As redes de TV fizeram campanha pelo ISDB.

"Nossa missão está cumprida", afirmou o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Em visita à emissora estatal japonesa NHK, Costa ressaltou sua trajetória de homem de TV. Ele assumiu a pasta com o objetivo de garantir a transição do rádio e da televisão brasileira para a tecnologia digital com o mínimo de impacto possível no modelo atual de negócios. Acionista de uma rádio em Barbacena (MG), Costa foi repórter do programa Fantástico e chefe da sucursal da Rede Globo nos EUA, antes de ingressar na política.

O memorando não garante a instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil, uma das principais demandas. O documento diz que "o governo japonês valoriza as empresas japonesas que cooperem com os vários estudos para a modernização das indústrias relacionadas a serem feitos pelo Brasil, e estudem a possibilidade investimentos futuros na indústria eletroeletrônica, incluindo a indústria de semicondutores e correlatos e cooperação na capacitação de recursos humanos".

Apesar disso, o governo está animado. "Seja mais otimista", sugeriu Costa à imprensa, ao ser questionado sobre a fábrica. "A versão assinada do documento foi a quinta, e está muito mais objetiva do que as anteriores". Segundo ele, a Toshiba enviará ao Brasil, em duas semanas, equipe técnica para trabalhar no projeto de viabilização da indústria de semicondutores. Técnicos do governo destacaram que a Samsung também teria interesse em instalar fábrica no Brasil.

Representantes dos dois países trabalharam no documento até as 6 horas da manhã de ontem. Os integrantes da comitiva consideram que todas as demandas brasileiras foram atendidas no que alguns chamaram, em tom de brincadeira, de "a batalha de Tóquio". O memorando prevê absorção de tecnologia desenvolvida no Brasil pelo padrão ISDB, participação brasileira no consórcio responsável pela tecnologia, criação de centro de desenvolvimento nacional, dispensa de pagamento de royalties e financiamento, pelo Japan Bank for International Cooperation, da transição dos radiodifusores brasileiros para o sistema digital.

O memorando confirmou a escolha do padrão japonês, apesar de não dizê-lo textualmente. "Tudo está encaminhado neste sentido, a menos que ocorra algum desastre", afirmou Amorim. O documento trata da escolha como uma decisão ainda a ser tomada, para não passar por cima do presidente Lula.

PONTOS DO ACORDO Semicondutores: O Japão se compromete em auxiliar o Brasil a definir plano estratégico e a apoiar empresas japonesas que queiram instalar fábricas.

Pesquisa: A tecnologia japonesa irá absorver inovações brasileiras, o País terá representante no comitê do padrão, será criado um centro de desenvolvimento no Brasil e haverá isenção de pagamento de royalties.

Financiamento: O Japan Bank for International Cooperation (JBIC) vai oferecer uma linha de crédito para os emissores brasileiros migrarem para a tecnologia digital.

Prazo: Depois que o governo anunciar sua decisão, os dois países têm quatro semanas para formar um grupo de trabalho e implementar as medidas previstas no documento.