Título: BR Distribuidora nega pedido de crédito de R$ 240 milhões à Varig
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3

Para presidente da estatal, Rodolfo Landim, decisão seria temerária, pois empresa aérea não oferece garantias

O presidente da BR Distribuidora, Rodolfo Landim, descartou qualquer possibilidade de concessão de crédito de 90 dias à Varig, como está sendo pedido pela empresa. "Tivemos várias reuniões com representantes da Varig, mas eles não nos apresentaram nenhuma garantia para o crédito. Agora, querem posar de vítimas e transferir para a BR o ônus de uma quebra iminente. Dar crédito à Varig seria uma decisão temerária", disse o executivo.

Considerando a média de consumo de março, os três meses de prazo pedidos pela Varig para fornecimento de combustível representariam, segundo Landim, R$ 240 milhões. O executivo lembra que o contrato da BR com a companhia aérea expirou em dezembro do ano passado e, "apesar dos diversos avisos", a Varig não o renovou. A partir de então, as encomendas passaram a ser aceitas apenas com pagamento à vista.

"Além disso, eles não compram só da BR, mas também da Esso, da Shell... Por que somente a BR teria de arcar com este risco?", indagou.

Nos últimos dias, o presidente da Varig, Marcelo Bottini, tem acusado a distribuidora, subsidiária da Petrobrás, de emperrar as negociações da companhia com os credores. Segundo Bottini, empresas internacionais, como as de leasing de aviões, têm tido mais boa vontade em conceder prazos mais flexíveis de crédito do que a estatal. Os custos com a compra de querosene de avião estão entre as maiores despesas operacionais das companhias aéreas.

Para Rodolfo Landim, a comparação é inadmissível, já que, diante de desaquecimento mundial do mercado de aviação, as empresas de leasing não têm outra alternativa a não ser manter os aviões em operação na Varig, com a expectativa de receber ao menos parte do débito. "Essas companhias não teriam muito o que fazer com os aviões. Talvez deixá-los estacionados no deserto de Mojave, nos Estados Unidos", ironiza.

Na tentativa de chegar a um acordo, os técnicos da BR analisaram todas as hipóteses e concluíram que não há nada que possa ser oferecido pela Varig para garantir o crédito. Uma das possibilidades seria os recebíveis em cartão de crédito, mas a direção da Varig alegou que já tinha ofertado os papéis em garantia ao fundo americano Matlin Patherson, um dos acionistas da Volo Brasil, que comprou a VarigLog, empresa de logística do grupo.

"Eles nos disseram assim: 'Queremos que vocês acreditem que vamos sair do buraco'. Ora, isso não serve como garantia", comentou Landim.

Segundo ele, dos 15 mil clientes que formam a carteira da BR Distribuidora, a Varig é a única que tem sua situação avaliada diretamente pelo Conselho de Administração da distribuidora, presidido pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas o conselho não tem interferido nas decisões técnicas da empresa. "Nos três anos e três meses em que estou à frente da BR, não recebi nenhuma orientação política do conselho que pudesse reverter critérios técnicos de decisão", afirmou o executivo.

Landim atribui a crise da Varig a problemas de gestão da própria empresa, que fizeram com que ela perdesse a confiança de seus clientes.

"Agora eles dizem que a BR está intransigente. Se aceitarmos este pedido, amanhã seremos acusados de negligentes", disse, comparando a situação da Varig à de um consumidor comum, que tenta obter crédito num supermercado com a única alegação de que sempre fez as compras do mês no mesmo estabelecimento.