Título: Para papa, Judas foi 'homem imundo'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2006, Vida&, p. A18

Bento XVI rechaçou texto que diz que o apóstolo agiu com o apoio de Jesus

Em sua primeira Quinta-Feira Santa como papa, Bento XVI celebrou uma missa em que afirmou que Judas Iscariotes, o apóstolo que entregou Jesus Cristo aos romanos em troca de dinheiro, é um exemplo de "homem imundo", para quem o poder e o sucesso são mais importantes que o amor.

Afirmando que o apóstolo não teve dúvidas ao vender Jesus, Bento XVI referiu-se indiretamente ao Evangelho de Judas, que, segundo estudos da National Geographic Society divulgados na semana passada, é um documento autêntico.

De acordo com esse texto apócrifo, que não é reconhecido pela Igreja, Jesus teria pedido a Judas que o traísse, para que assim pudesse cumprir sua missão de salvar a humanidade.

"O que deixa o homem imundo?", perguntou o papa, que deu a resposta logo em seguida. "A rejeição ao amor, o não querer ser amado e o não amar. É a soberba de acreditar que não precisa de purificação, a rejeição da vontade salvadora de Deus. Em Judas, vemos a natureza dessa negação com mais clareza. Ele valorizou Jesus segundo os critérios do poder e do sucesso." O Vaticano ainda não se pronunciou sobre o manuscrito.

MUDANÇA DE HÁBITO

Bento XVI recuperou a tradição de celebrar a missa da última ceia na Basílica de São João de Latrão - nos últimos anos, o ritual foi realizado na Basílica de São Pedro, devido ao frágil estado de saúde de João Paulo II. Bento XVI também quebrou outro hábito estabelecido por seu antecessor: não escreveu a tradicional carta que costumava ser enviada a todos os sacerdotes do mundo.

Por decisão do papa, o dinheiro recolhido na missa será destinado à reconstrução de casas para as vítimas de um desmoronamento de terra na região de Maasin, nas Filipinas. Durante a cerimônia, o papa cumpriu o ritual de lavar e secar os pés de 12 pessoas, como Jesus teria feito com seus apóstolos.

Hoje, Bento XVI celebrará a Paixão de Cristo na Basílica de São Pedro. À noite, deve ir ao Coliseu de Roma, onde cristãos foram martirizados, para presidir a tradicional Via Sacra. A expectativa é que fale sobre o diabo, alertando os fiéis contra uma "apologia do demônio" que ameaça destruir a humanidade, e sobre o combate a um "narcisismo decadente, um orgulho maligno destinado a eliminar a família".

Parte da pregação poderá criticar os avanços da ciência genética, que pretende, segundo Bento XVI, "modificar a gramática da vida conforme foi planejada e desejada por Deus". Uma atitude "insana, arriscada e perigosa", que faz com que o homem "tome o lugar de Deus, sem sê-lo".

PROCISSÃO DO FOGARÉU

Um público estimado de mais de 15 mil pessoas acompanhou, durante uma hora, a tradicional Procissão do Fogaréu, realizada na madrugada de quarta para quinta-feira, em Goiás Velho, Goiás. Com 261 anos de história, a encenação da perseguição de Jesus Cristo por um grupo de farricocos (representantes dos soldados romanos) leva às ruas 40 atores com túnicas coloridas e tochas.