Título: Alckmin quer afastar Lula 'na urna'
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2006, Nacional, p. A9

Pré-candidato questiona crescimento festejado pelo presidente, lembrando fraco desempenho do País em 2005

O ex-governador de São Paulo e pré-candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem discordar da movimentação de líderes da oposição, entre eles o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati, para pedir o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por causa do parecer do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Na denúncia enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), Souza acusou o PT de agir como uma "organização criminosa" ao criar o sistema de financiamento ilegal de parlamentares - o mensalão.

"Não discuto o impeachment. O que quero é derrotar o Lula e o PT nas urnas", disse Alckmin, durante visita à 46ª Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina, onde foi recebido por cerca de 500 produtores rurais para apresentar as suas propostas.

Em encontro reservado com a direção da Sociedade Rural do Paraná, que promove a feira, Alckmin foi cobrado sobre o seu projeto para a agropecuária. Um dos diretores observou que os produtores rurais já se sentiriam satisfeitos se, na eventualidade de ele vencer a eleição, não "atrapalhasse" o agronegócio.

Apesar de dizer ser contra um eventual pedido de impeachment de Lula, Alckmin declarou que a denúncia do procurador-geral revelou a ação de uma "quadrilha organizada" na cúpula do governo, não apenas de pessoas isoladas.

"Todo governo corre o risco de ter funcionários que praticam atos ilícitos - e esses funcionários devem ser punidos -, mas com o governo do PT ficou demonstrado que foi uma ação coletiva, resultado da confusão entre os interesses do partido e os públicos", afirmou. "O aparelhamento do Estado (preenchimento de cargos de confiança por petistas) deu nisso."

O tucano rebateu a afirmação feita ontem em Sorocaba (SP) por Lula, de que a oposição intensifica os ataques a seu governo porque está "nervosa" diante dos índices de crescimento econômico que vêm sendo apresentados por seu governo. "Que crescimento, se só ficamos na frente do Haiti no ano passado?", provocou Alckmin, lembrando que o PIB brasileiro cresceu apenas 2,3% no ano passado em relação a 2004.

"Além deste crescimento pífio, Lula tem reiterado que não tem pressa para que a economia atinja índices satisfatórios de crescimento", comentou. Segundo o ex-governador, esse comportamento caracteriza o presidente como o "anti-Juscelino". Juscelino Kubitschek, lembrou Alckmin, promoveu em cinco anos crescimento projetado para 50 anos, enquanto Lula, na sua avaliação, nem em 50 anos conseguirá atingir a taxa de crescimento que a gestão de Juscelino apresentou em cinco.

Apesar do crescimento lento de sua popularidade nas pesquisas, o tucano se disse "feliz" com o seu desempenho. "Nas outras eleições que disputei, eu tinha, nesta altura do campeonato, no máximo 8 pontos; agora tenho 20 - e a campanha nem sequer começou."

Alckmin alterou o roteiro traçado por sua assessoria para visitar, no recinto da Expo Londrina, o ex-ministro José Eduardo de Andrade Vieira, um crítico ferrenho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi o coordenador financeiro em sua primeira campanha eleitoral e a quem responsabiliza pela quebra do Banco Bamerindus, que controlava.

Andrade Vieira é um entusiasta do ex-presidente Itamar Franco, que lançou na quarta-feira sua pré-candidatura à Presidência pelo PMDB. Alckmin disse que, se o PMDB lançar candidato, vai enfrentá-lo. Se o partido se aliar ao PSDB, completou, "será bem-vindo".