Título: Planalto propõe trégua para preservar famílias
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2006, Nacional, p. A8

Filhos de Lula e de Alckmin seriam poupados no pacto

Sob ataque incessante da oposição, o governo está disposto a fechar um pacto familiar de boa convivência com o PSDB e o PFL. A proposta do Palácio do Planalto é que o PSDB pare de bater em Fábio Luís, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em contrapartida, o PT ordenaria cessar-fogo contra o clã do ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência.

Com a reciclagem do ditado popular sobre amigos e negócios, os governistas que preparam a campanha de Lula têm novo bordão: "Disputa, disputa, famílias à parte." Depois dos vestidos de luxo de Lu Alckmin, mulher do concorrente tucano, o novo alvo é Thomaz, o filho do ex-governador. Motivo: ele é sócio de Suellen, filha do acupunturista Jia Eol. Os dois teriam sido beneficiados em contratos entre o governo Alckmin e o spa comandado por Jia.

Enquanto o PT vasculha a vida da família Alckmin, o PSDB não pára de atazanar o filho de Lula que é sócio da Gamecorp, uma produtora de conteúdo para o público jovem. Desde 2004, a Gamecorp recebeu cerca de R$ 10 milhões da Telemar, empresa de telefonia. O negócio provocou suspeitas de favorecimento.

Diplomático, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, nega que haja um pedido de trégua à oposição, acompanhado da proposta de acordo. Admite, no entanto, que é preciso dar um basta no tiroteio envolvendo a vida pessoal do presidente e de Alckmin.

"Eu acho absolutamente inconsistente jogar no processo eleitoral o filho do Alckmin, que é um rapaz jovem, que trabalha e tem uma pequena empresa", disse Tarso. "Assim como é absurdo tentar envolver o filho do Lula, que nada tem a ver com as relações políticas do presidente." Tarso conversou sobre o assunto na quarta-feira com os senadores Arthur Virgílio (AM) e José Agripino (RN), líderes do PSDB e do PFL, respectivamente. Na sua avaliação, estabelecer conexões entre a vida pública e a vida privada é uma prática "totalmente indevida".

"Isso desqualifica o processo eleitoral", argumentou o ministro.

Questionado sobre o pacto de boa convivência para evitar mais desgaste político, Tarso achou que a idéia pode prosperar. "Não digo que façamos um acordo nem um contrato. Mas no momento em que estivermos dispostos a criar um ambiente mais positivo para a eleição, certamente cada um de nós pensará em coisas como essa", comentou.

Lula está muito irritado com o ataque sobre Fábio Luís. Alckmin também não se conforma com os petardos na direção de Thomaz e atribui as denúncias ao que chamou de "petistóides". "É a turma do PT que se dizia vestal e agora quer puxar todo mundo para o fundo do poço", insistiu o ex-governador.