Título: PT contesta em nota denúncia do MP
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2006, Nacional, p. A6

Acusação 'extrapola fatos investigados e comprovados', sustenta o partido

Em nota oficial divulgada ontem, o PT critica os termos da denúncia contra os 40 acusados de envolvimento no mensalão encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e faz restrições ao enfoque dado ao assunto pelos meios de comunicação.

O texto, assinado pelo presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, afirma que "o conteúdo" da denúncia do procurador "extrapola os fatos efetivamente investigados e comprovados e repete a tese construída pelo indiciado Roberto Jefferson sobre a existência de um sistema de corrupção e aliciamento de deputados."

Na nota, o PT reafirma seu entendimento de que "não existem elementos suficientes" para comprovar as denúncias da forma como são apresentadas pelo procurador Antonio Fernando de Souza.

Sobre a abordagem do assunto pela imprensa, diz a nota de Berzoini: "O PT repudia a forma como os vários meios de comunicação divulgaram a denúncia, tentando imputar as eventuais ilegalidades cometidas por membros ou dirigentes do PT à instituição partidária, o que não poderia ocorrer, salvo se tivessem sido decididas pelas instâncias do PT."

A nota observa que a apresentação da denúncia "mostra o pleno funcionamento das instituições democráticas", mas não é uma "sentença condenatória", pois o caso ainda não foi julgado pela Justiça.

O PT reitera que discorda do "tom empregado na denúncia" pelo procurador e da "caracterização de alguns dos fatos" denunciados. Ao final, a nota afirma que o PT defende "a mais ampla apuração de todos os fatos denunciados", mas espera que a cobertura jornalística dessa apuração não se transforme em "instrumento de campanha eleitoral dissimulada."

A nota de ontem faz parte de uma estratégia articulada pela cúpula partidária para reduzir os danos ao PT. A idéia é apontar as inconsistências do relatório da CPI dos Correios e da denúncia apresentada pelo Ministério Público, mas deixar a cargo de cada acusado sua defesa individual.

O discurso a ser adotado é o de que o partido como instituição não pode ser acusado por irregularidades cometidas por alguns de seus integrantes, mesmo que tivessem cargo de comando na sigla. Com isso, a cúpula pretende preservar no que for possível a imagem partidária e evitar danos maiores para a próvavel campanha à reeleição de Lula.